quarta-feira, 29 de maio de 2024

O PIB português já provavelmente acima do do Japão

 

Atrasado nas leituras, que gostaria de ter atualizadas com ritmo mais conveniente, só agora li o ensaio publicado pelo economista Manuel Caldeira Cabral na Visão de 9 de maio transato, e que não vi abordado na comunicação social com o enfoque costumeiro se as conclusões fossem as opostas. Baseando-se nos números do insuspeito Eurostat, e confirmados pelos do FMI, demonstra-se que os governos de António Costa fizeram convergir o PIB português com o das maiores economias - aquelas com quem nos pretendemos comparar! - e distanciou-nos dos de países como a Roménia e a Hungria, que serviram de cabeças de cartaz para uma campanha mentirosa das direitas.

Ainda mais surpreendente: os números em causa dão-nos já à frente do Japão que, décadas a fio, mereceu tantos encómios dos ultraliberais fascinados pela forma como os consórcios orientais conseguiram docilizar os explorados e convencê-los de merecerem péssimas condições de vida por não se dedicarem ao trabalho com o afã dos que acabavam, invariavelmente, por nele sucumbir por esgotamento.

Foi essa dinâmica que o ainda presidente e a procuradora geral da República puseram em causa com a interrupção da anterior legislatura. E será mais do que provável que a fraqueza deste (des)governo deite a perder uma herança de que não é digno.

Para mais vasto conhecimento dos que andam a ter da economia as falácias de José Gomes Ferreira e congéneres aqui fica o início desse texto notável a título de sua sinopse:

 

Os dados do Eurostat saídos em abril mostram que, nos últimos oito anos, Portugal convergiu com todos os países mais ricos do mundo que integram o G7, e que convergiu com a maioria destes países a um ritmo semelhante ao do período de ouro que se seguiu à nossa entrada na CEE. Revelam também algo surpreendente: Portugal pode já ter ultrapassado o Japão e, até 2030, se o ritmo de convergência se mantiver, poderá igualar o PIB per capita de Espanha.

Nos últimos anos, a discussão pública sobre convergência foi dominada pela ideia de que estaríamos a ser ultrapassados. Ficámos tão focados a olhar pelo retrovisor, preocupados com os países que estavam atrás de nós, que não olhámos para o que estava a passar-se à nossa frente, isto é, não vimos que nos estávamos a aproximar, a bom ritmo, dos países mais ricos.

Olhando pelo retrovisor, dedicámos muito tempo a discutir que íamos ser ultrapassados pela Roménia ou pela Hungria. Tal não aconteceu. Em 2023, estes países, em vez de nos ultrapassarem, ficaram um pouco mais para trás. Mas este olhar pelo retrovisor fez com que só estejamos a tomar consciência de que é possível ultrapassar o Japão quando já o ultrapassámos.

Os dados do Eurostat mostram que, entre 2015 e 2023, Portugal não foi ultrapassado por nenhum país de Leste. A evolução dos últimos três anos, em que o País cresceu mais do que os países de Leste, e as previsões para os seguintes anos sugerem que, nos próximos dois ou três anos, também não deverá acontecer nenhuma ultrapassagem.

Estaremos a meio de um novo período de forte convergência com os países mais ricos?

Aos dados do Eurostat podemos juntar as recentes previsões do FMI, que confirmam que a tendência de convergência deverá manter-se nos próximos anos. As estimativas e as previsões para o triénio de 2023-2025 colocam Portugal, nestes três anos, a crescer mais do dobro do que a Zona Euro, e a crescer mais do que sete dos 11 países de Leste, que integram a UE- 27, sugerindo que a convergência que aconteceu, entre 2015 e 2023, deverá continuar em 2024 e 2025.

O percurso já percorrido, entre 2015 e 2023, estas previsões (para 2024 e 2025) e o facto de o País estar com a balança corrente e de capital e o saldo das contas públicas positivos reforçam a ideia de que Portugal pode estar a meio de um ciclo de convergência tão positivo como o dos 15 anos que se seguiram à entrada na CEE.

Os dados económicos sobre a situação presente e sobre os últimos anos são muito positivos, mas não nos devem levar a pensar que o trabalho está feito. Devem antes chamar a atenção para a importância de se manter as políticas e a dinâmica que permitiram atingi-los, ao mesmo tempo que se corrigem aspetos que podem melhorá-los. 

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