quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Os direitos não absolutos dos que os julgam ter!

 

1. O alarido das várias direitas para sabotarem a legislação do governo relativa à habitação tem merecido os mais descabelados argumentos, todos eles coincidentes com a associação do direito à propriedade a algo de absoluto, de ilimitado. Nas televisões, maioritariamente ocupadas pelos defensores de um fanatizado ultraliberalismo, tende-se a ignorar que metade dos países da União Europeia controlam as rendas e Lisboa é a capital com maior número de alojamentos locais por cem mil habitantes.

Num texto bem estruturado sobre o assunto, Daniel Oliveira defende que  as coisas não se podem desequilibrar de tal forma que o acumular de poupanças de uns esmifre completamente as poupanças de outros”. Porque “a propriedade não é um direito sagrado. Ficar com uma casa vazia, para ser valorizada, numa cidade onde haja grande pressão no mercado de habitação é comparável ao açambarcamento. Quem queira transformar casas onde elas faltam num ativo financeiro vazio não pode fazê-lo, porque o seu interesse causa um dano desproporcionado ao interesse comum.”

2. Até o insuspeito João Miguel Tavares se incomoda com um dos mais desvairados comentadores da nossa praça, há anos a publicar os mais odiosos propósitos em diversas publicações, que lhe dão importância enquanto membro assumido da Opus Dei. Agora, a propósito dos abusos sexuais sobre milhares de crianças nas últimas décadas, o padre Gonçalo Portocarrero de Almada - é ele que o cronista do «Público» verbera! - consegue a proeza de considerar a Igreja Católica vítima de todo o fluxo noticioso das últimas semanas, não deixando de desqualificar o carácter anónimo de muitos dos que revelaram o seu sofrimento à comissão independente.

Num texto em que, por uma vez lhe damos razão, o Tavares considera Portocarrero “a cara chapada do clericalismo que conduziu a décadas e décadas de encobrimento. É preciso ter muita lata para continuar a exibi-lo com este despudor após tudo o que foi revelado, e do imenso mal que a Igreja – enquanto estrutura opaca, silenciadora e cúmplice, sim – causou àqueles que confiaram nela.”

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