Confesso que nunca acompanhei o entusiasmo de uns quantos amigos pelo Papa Francisco em cujo pontificado não vejo grandes sinais de rutura com os dos seus antecessores. Poderá parecer menos odioso do que o sinistro João Paulo II, ou menos antipático do que o agora finado Bento XVI, mas o antigo bispo Bergoglio tem de se incumbir da sobrevivência de uma metafísica absurda, e vai agindo em conformidade, adaptando-se a cada circunstância, como aliás sucedeu na Argentina dos generais com cuja ditadura comprovadamente pactuou.
Anda a facilitar os inquéritos sobre os abusos sexuais na Igreja? Pois anda, mas poderia evitá-los face à dimensão dos sucessivos escândalos?
Pronuncia alguns discursos aparentemente anticapitalistas criticando a ganância de uns, e mostrando-se compadecido com a pobreza de outros? Uma vez mais põe a Igreja em modo de limitação de danos, tão ostensiva tem sido o seu conúbio histórico com os poderosos, os que de si se servem para manter aperreados os seus inquietos rebanhos.
E o que dizer da cristalização de posições perante as novas realidades sexuais e de género? Não foi Francisco quem, por estes dias, descansou os homossexuais quanto a não estarem a cometer um crime (como disse?), mas persistirem na condição de impenitentes pecadores?
Não alinho, pois, nas críticas de não existir sintonia entre o feitio do Papa e os dispendiosíssimos altares para a festarola católica de agosto aqui em Lisboa. Na realidade parece evidente neles conjugarem-se o sentido de negócio da empresa de construção civil do regime (a que agora contratou Paulo Portas para administrador!) e a ridícula saloiice de Carlos Moedas, cujos múltiplos complexos de inferioridade (de classe donde proveio, de altura, de aspeto nerd, etc.) justificaram tão faraónicas opções.
Não! Em definitivo julgo que Carmo Afonso alinha em espúria ilusão, quando escreve: “arrisco dizer que este Papa não seria favorável a um despesismo desta natureza num contexto em que milhões de pessoas vivem dificuldades para pagar a renda, ou a prestação, da casa, a fatura da eletricidade e a própria alimentação”.
Seria louvável que assim fosse, mas olho para os aparentes votos de pobreza franciscana como mera estratégia de marketing de um inteligentíssimo jesuíta, que tem colhido o efeito pretendido nuns quantos inocentes. Porque, na realidade, os vários deuses, a cuja pala tanto sofrimento se causa por esse mundo fora, continuam a ser das mais detestáveis criações humanas.
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