O encontro de gente muito endinheirada em Davos coincidiu com a publicação de relatórios insuspeitos sobre aquilo que Marx definiu como a acumulação de capital capaz de justificar uma agudização da luta de classes: da riqueza criada desde 2020, num total de 42 triliões de dólares, 2/3 foram parar aos bolsos de 1% da população mundial à custa da quebra do rendimento dos mais pobres e dos Estados, que lhes deveriam assegurar os apoios sociais. Segundo o Banco Mundial esse 1% da população detém 38% da riqueza acumulada enquanto 50% sobrevivem (mal) com apenas 2%.
Segundo a revista «Exame» de dezembro, as 25 famílias mais ricas de Portugal aumentaram o património em 3,3 mil milhões de euros durante o ano de 2022, entre elas se contando as que, no ramo de distribuição, tanto gostam de se associar à caridadezinha das ações da tia Jonet.
Assustado com as previsíveis consequências destes números o diretor do «Público» implora por medidas redistributivas capazes de salvarem o capitalismo, que para ele é sinónimo de democracia. Equiparação que não faz qualquer sentido, tão evidente é que à democracia de uns (que, além da riqueza, também detêm os meios de desinformação com que manipulam as mentes dos incautos crédulos nesse missal) corresponde a sofrida miséria de tantos milhões para quem é urgente demonstrar a pertinência de um outro tipo de organização económica e social. E quanto mais se lhes aperta o garrote na garganta, mais violentamente espernearão no momento de, como dizia um arguto chinês, uma fortuita centelha incendiar toda a pradaria.
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