segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

2023, um ano bipolar?

 

1. Começamos o ano em registo bipolar: por um lado Lula tomou posse para recuperar os danos causados nos últimos quatro anos pelo sinistro antecessor, mas Putin e Zelensky prometem guerrear-se até ao último ucraniano vivo numa deriva que, política e economicamente, só aos Estados Unidos interessa. E se grandes movimentos laborais e sociais se erguem em geografias tão diversas quanto o são a Inglaterra, o Irão ou o Peru, há a contrapartida dos grandes fabricantes de armamento já terem debaixo de olho a Arménia, o Azerbaijão, a Sérvia e o Kosovo para manterem os lucros em alta acaso as sinetas de alarme se calem em Kiev.

Marx chamaria a esta dualidade a melhor demonstração do materialismo dialético, que Hegel tão bem enunciara, e confirma a intemporalidade da velha luta de classes!

2. Embora dele em muito discorde não há como não dar razão a Pacheco Pereira, quando atribui a “erros e asneiras consideráveis” os amargos de boca por que tem passado António Costa nestes nove meses. Tanto mais que, no mesmo texto, o antigo deputado laranja considera “infame” a comparação lançada por alguns meios de comunicação social com o sucedido com o desgoverno de Santana Lopes de má-memória. E reconhece o óbvio: “sejamos justos, há algum exagero, e uma ecologia venenosa de crítica à governação, sem paralelo nas últimas décadas, que vem mais da nova comunicação social da direita do que dos partidos da oposição que vão a reboque”.

Motivo mais do que justificado para concluir que a tão propalada “liberdade de imprensa” aproveita, sobretudo, aos que têm recursos financeiros para a usar em seu exclusivo proveito.

3. No polo ideológico contrário há o texto de Francisco Louçã, que atribui a casos como os de Miguel Alves ou Alexandra Reis “o resultado de uma construção meticulosa de redes de poder, ou de como uma casta se incrustou no uso do Estado. Essa casta é o passado de Portugal e quer ser o nosso futuro.”

No fundo está em causa o arrivismo, que nada tem de novo, mas se sabe reinventar à medida das transformações por que vão passando as sociedades.  Porque, independentemente dos partidos, haverá sempre gente ambiciosa e de limitados talentos, decidida a ir tão longe quanto lho permitirem os que os avaliam incorretamente por deles se verem bajulados. 

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