quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Há sempre alguém que diz não!

 

Quando é dia de comemoração da luta dos operários da Marinha Grande que, há oitenta e nove anos, foram os mais consequentes no propósito de, nesse dia, pôr cobro à ditadura salazarista - terá faltado coragem aos que com eles se deveriam conjugar! - sou tentado a ponderar no cenário alternativo eventualmente suscitado pela sua vitória.

Derrubado o salazarismo haveria condições para recuperar a turbulenta democracia parlamentar vivida nos dezasseis anos da primeira República?

Difícil acreditar em tal hipótese, tão forte andava a tendência europeia para se render às ilusões totalitárias que Mussolini consolidara em Itália e Hitler replicava na Alemanha. O fascismo luso, que se implantara entre esses dois modelos “inspiradores”, constituía uma inevitabilidade tão significativo era o analfabetismo da população e o seu controle por obra e graça de uma sinistra Igreja Católica e dos caciques, que dela se davam como tão devotos quanto esse presidente do Conselho, lesto em afastar os militares golpistas do 28 de maio e em criar uma ditadura à sua imagem e semelhança.

Em 1934 os operários da Marinha Grande constituíram uma espécie de quixotes tentados a exigirem de si o que lhes seria impossível. Esperançados em que fosse esse o momento de forçar o provável destino, considerado apenas um bocadinho mais difícil de alcançar. Tanto que só aconteceria quarenta anos depois! Mas também os recordamos como aqueles que Manuel Alegre homenageou no na Trova do Vento que passa e que Adriano tão admiravelmente cantou: Mesmo na noite mais triste /
Em tempo de servidão / Há sempre alguém que resiste /
Há sempre alguém que diz não 

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