1. Não sei se Carmo Afonso tem razão quando identifica uma das especificidades da arte de ser português: “bons a conseguir o impossível, péssimos a gerir uma situação de vantagem”. Mas António Costa tem-no sobejamente demonstrado no ano em curso: em vez de aproveitar as excecionais condições suscitadas pela maioria absoluta para melhor superar os condicionalismos impostos pela pandemia e pela guerra na Ucrânia, perdeu quase um ano a gerir casos e casinhos, que uma central de conspiração das direitas tem vindo a plantar habilidosa e cirurgicamente. E somando-se-lhe um presidente que até se baba por o ter na mão, lembrando-lhe que a arma atómica está ao seu dispor e usá-la-á tão só sinta Passos Coelho ou outro qualquer dos seus acólitos em condições ideais para dar esse golpe.
2. Não é que a choruda indemnização a Alexandra Reis fizesse falta para o sabermos, mas ela só confirma o despautério dos betos da Iniciativa Liberal, quando ululam quanto à existência de um tenebroso «socialismo» à frente da máquina do Estado. Como escreveu João Rodrigues no blogue Ladrões de Bicicletas “estamos em neoliberalismo puro e duro. Estamos perante as consequências de décadas de redução dos direitos laborais e do poder sindical, correlativos de aumentos dos direitos patronais: paraquedas dourados para os de cima, presumindo-se que os de baixo sabem voar. E daí a conversa peçonhenta do empreendedorismo.”
Não estamos muito longe da conhecida cena do filme de Nanni Moretti em que ele vê o líder da esquerda italiana na televisão e lhe pede para que diga algo de acordo com esse suposto posicionamento político. E, associando-o a António Costa, acrescentemos-lhe mais um pedido: que o faça, provando que o socialismo não é só uma palavra, mas uma ideologia transformadora do muito que está mal e é urgente ser alterado!
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