1. Parafraseando uma glosada fórmula não li e não gostei da entrevista com o presidente do grupo Jerónimo Martins por não ter qualquer ilusão quanto à evolução ideológica de quem vem assumindo o cargo. O antecessor, pai de Pedro Soares dos Santos, já justificara a razão porque, por questão de principio, não entro nas lojas do Pingo Doce desde o célebre boicote do 1º de maio, e não vejo motivo para alterar essa escusa, aliás estendida a tudo quanto tem a ver com a Fundação com que procura empurrar o rumo do país mais para a direita.
Carmo Afonso teve a paciência de a ler e partilhou connosco a conclusão lógica dela colhida: “Pedro Soares dos Santos não ficou contente com a criação do novo imposto sobre lucros extraordinários e quis atacar este Governo. Usou o que tinha à mão: os pobres e a pobreza”. Como se fossem eles o seu verdadeiro motivo de preocupação e não os minguados euros, que o poder político cuidou agora de lhe vir a resgatar.
2. O Qatar fica aqui mesmo ao lado foi o que veio confirmar o relatório da Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e do Trabalho dá particular destaque à falta de direitos de quem entrega de comida a domicílio ou conduz os carros das plataformas digitais. Mas o problema é mais generalizado do que esse: passados quarenta e oito anos sobre a Revolução de Abril muitos dos direitos por ela reconhecidos aos trabalhadores na Lei Geral do Trabalho foram eliminados nas sucessivas revisões operadas pelos governos, sobretudo os de direita, e às quais o Partido Socialista se tem escusado a infletir. A precariedade que condiciona quem tem emprego cria efeitos, que assumem efeitos devastadores no futuro do país, mormente na demografia e na capacidade para reter aquém-fronteiras os melhores talentos, depressa cientes de aqui não terem futuro à altura das suas expetativas.
Para ser racional com o que Portugal precisa, o governo deveria dar aos Soares dos Santos do país, bem maiores motivos para virem proclamar o seu “pessimismo”. Porque os seus interesses são os opostos dos que veem cada vez mais mês a sobrar quando esgotam os seus parcos rendimentos.
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