O que mais lamento no triste caso da curta passagem de Alexandra Reis pelo governo é a falta de exigência imposta por António Costa em quem convida para a sua equipa. Somam-se os exemplos de quem, agindo supostamente dentro da legalidade que os contorcionismos interpretativos possibilitam, faz-se convidado para onde não só se impõe irrepreensível seriedade, mas também, como à mulher de César, indubitável aparência em assim ser. É o conflito entre a lei e a ética, que, como Carmo Afonso, hoje reconhece, suscita um sentimento de injustiça, quando apreciado à luz de demasiados princípios.
Não estranho que surjam muitas Alexandras deste tipo nos palcos políticos e sociais: se as gerações que viveram a Revolução de Abril ainda envergaram preocupações ideológicas, as que lhes sucederam depois do triunfo do reaganismo e do thatcherismo sobre as utopias igualitárias, passaram a defender, sob a falácia meritocrática, o “sucesso” de uma economia apostada em dar menos aos pobres para melhor premiar os que anseiam ser ricos. Daí nos não admirarmos por a ex-secretária de Estado ter-se tão bem feito premiar depois do seu papel ativo na redução dos rendimentos dos trabalhadores da TAP. O egoísmo desta geração de tecnocratas exclui qualquer sentimento de generosidade, solidariedade e empatia com os que menos recebem.
Daí a incompatibilidade de Alexandra Reis com um governo, que se diz socialista. Embora nos deva preocupar a escolha que, a seguir, Costa e Medina, farão para a substituir. É que o seu histórico de opções anda a ser posto em causa com inquietante frequência para que aceitemos de bom grado as responsabilidades da tal «bolha mediática», que se limita a aproveitar os tiros nos pés por eles autoinfligidos!
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