quinta-feira, 16 de março de 2023

TAP, inflação e xenofobia

 


1. Mantendo dúvidas quanto aos danos causados no interesse público por toda a demagogia lavrada na imprensa a propósito da indemnização a Alexandra Reis e o quanto a intervenção de alguns protagonistas - mormente Marcelo! - poderá ter agravado a sucessão de decisões, que culminaram na malfadada conferência de imprensa em que vimos Fernando Medina a desqualificar João Galamba  enquanto ministro de tutela da empresa, parece óbvio um maior interesse no cabal esclarecimento do negócio entre David Neeleman e a Airbus, que lhe permitiu comprar a TAP sem nela injetar um cêntimo seu.

Se a questão da demissão da CEO francesa colide com o sucesso do plano de recuperação da empresa e a possibilidade de acautelar uma eventual participação do Estado português na empresa após a privatização, o que configura o conluio do último governo de Passos Coelho com o consórcio Gateway é um crime indisfarçável e uma reiterada prática de entregar a gente mais do que suspeita aquilo que a todos nós pertencia. E, se isso não significar a condenação definitiva do antigo primeiro-ministro e de vários dos seus ministros e secretários de Estado como indignos de voltarem a assumir cargos governativos, muito mal andará este país, se insiste em aceitar vigarices de tal dimensão...

2. Sem surpresa vimos a RTP a promover-se como provedora dos interesses da Sonae ou da Jerónimo Martins defendendo-lhes as práticas especulativas e atirando para cima dos produtores a quase exclusiva culpa pelo aumento do preço dos produtos alimentares. Como se a especificidade portuguesa nesse fenómeno não demonstrasse o logro inerente à cortina de fumo agora lançada com a habitual expressão de gáudio de José Rodrigues dos Santos, quando anuncia algo do interesse das empresas, que mais nos exploram. E continuam a não faltar as tentativas de impor um abaixamento do IVA que - está cá provado e lá fora! - ser forma expedita desses mesmos protagonistas embolsarem ainda maiores margens de lucro!

3. Sim! As anteriores apreciações de Gary Lineker sobre Jeremy Corbyn não poderão ser esquecidas, mas é forçoso reconhecer que ele condenou a nova legislação do governo conservador inglês como algo que faz todo o sentido: o paralelismo com o extermínio dos judeus pelos nazis, que não começou na criação dos campos de concentração, mas na crescente desumanização desses outros erigidos como representantes de um mal absoluto a extirpar. E, por isso, a inflexão da BBC terá equivalido a mais um prego no caixão de um governo conservador, cujo fim inevitável se anuncia nas sondagens. Muito embora os trabalhistas, liderados por Keir Starmer, pouco pareçam ter de esquerda, descendendo da malfadada herança do Tony Blair de má-memória e continuando a esquecer quem eram no tempo de um Michael Foot ou de um Neil Kinnock. 

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