Os
tempos atuais - para além de extremamente difíceis para a maioria dos
portugueses - também estão a ser extremamente interessantes pela capacidade de
indignação que culminou nas
manifestações de 15 de setembro. E que mostraram a impossibilidade de se prosseguir
neste rumo ideológico em que os pobres pagam a crise e os ricos ficam cada vez
mais ricos!
No entanto, a coberto desta indignação coletiva, surge a
campanha de intoxicação demagógica, tão comum nas épocas de crise, em que o
criptofascismo libertário ganha direitos
de indecorosa divulgação.
Basta olharmos para o outro lado do Atlântico e para o desfile
de «freaks», que empunham as bandeiras do «tea party», para vermos no que
redunda o discurso anti partidos e antipolíticos e quem, na sombra, o financia:
todas as ditaduras emergiram deste tipo de afirmações em que se sugerem
diminuições de ordenados para os políticos ou a condenação dos partidos
(nomeadamente do «centrão» como alguns se apressam a sugerir!).
Deixemo-nos levar por esse tipo de discurso acéfalo e podemos
dizer adeus às mais preciosas das liberdades, desde a de exprimirmos o que
pensamos até às de lermos, vermos ou ouvirmos o que apreciamos!
Os Putins, os Hitlers ou os Mussolinis surgiram de caldeirões
sociais, políticos e económicos em que se criaram apetências por «homens
providenciais» acima dos «corruptos» que gozam de supostas mordomias
excessivas!
Curioso como essas mentes -
ou inocentes ou profundamente estúpidas! - se apressam a olhar para os
ordenados dos ministros ou dos deputados e não olham para o que recebem os
Mexias, os Catrogas ou os Nogueira Leites deste
país. Ou para os Amorins, os Belmiros ou os Soares dos Santos, que só
adivinhamos contarem com milhões não só nos bancos nacionais, mas também nos
paraísos fiscais. Ou, afinando ainda mais o alvo, esses especuladores
financeiros, que criam as experiências como a da TSU, e as vendem a académicos
enfronhados nos seus números para ganharem milhões à custa dos mesmos de
sempre.
Não, meus amigos! Quando disseminam mails e posts contra as
remunerações dos políticos ou contra os partidos políticos, não estão mais do
que a servir de idiotas úteis a quem tem todo o interesse em desviar o
alvo das vossas espingardas e pô-los a gastar munições contra quem está longe
de merecer a melhor das vossas atenções.
O que está em causa é o sistema capitalista tal qual está,
que conseguiu convencer as multidões dos supostos deméritos das propostas
marxistas, quando é nelas - devidamente atualizadas para o contexto dos nossos
dias e expurgadas dos erros, que conduziram aos excessos estalinistas ou
maoístas! - que reside a esperança em alcançarmos uma sociedade mais justa,
equitativa e sustentável!
Por isso a nossa guerra não é com os políticos!
Se estes não servem - e os do atual governo já demonstraram
que, de facto, só têm lugar no caixote do lixo da História! - devemos exigir
outros, de melhor qualidade, nem que para tal lhes devamos pagar mais para
conseguirem fazer melhor e não buscarem a merecida retribuição do seu valor
noutro lugar que não o do serviço público!
Se estes partidos não servem, tenhamos a coragem de militar
neles e esforçarmo-nos por transformá-los em organizações mais eficientes e
orientadas para a defesa do interesse coletivo. Porque - é uma convicção que
nunca vi desmentida: os maiores detratores dos partidos são sempre os que nunca
quiseram sujar as mãos a pintar cartazes ou a gastar noites em discussões
coletivas sobre as melhores estratégias a implementar!
Não, meus queridos amigos, que me bombardeiam com mails e
posts demagógicos: deverão fazer ainda um esforço mais para serem
revolucionários! E não bastará ir para as manifestações gritar palavras de
ordem: necessário é estarem convictos que, mais do que destruir políticos ou
partidos, é fundamental exigir-lhes que sejam atores da decisiva mudança
civilizacional rumo a um futuro em que voltemos a poder sonhar!
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