terça-feira, 11 de setembro de 2012

POLITICA: A rejeição ao Governo cresce exponencialmente


A acreditarmos na opinião publicada nos diversos órgãos de informação, que vão chegando diariamente aos portugueses, os defensores das políticas do governo de Pedro Passos Coelho começam a ter a sensação de serem gauleses rodeados de romanos e sem qualquer poção mágica capaz de os defender da vaga, que começa a crescer à sua volta e os ameaça afogar.
É claro que o governo e os seus apaniguados podem ainda contar com a força bruta e aparentar  essa evidência aonde só mais se desmascara a sua fraqueza - como aconteceu com o advogado, que tirou fotografias do carro mal estacionado do ministro Aguiar Branco à porta do seu escritório no Porto, e foi forçado pela polícia a identificar-se - mas a linha vermelha, que parecia travar muitos descontentes na resignação impotente está a dar lugar a uma determinação por fazer das ruas o palco da indignação por tudo quanto têm sofrido. As manifestações previstas para o dia 15 de Setembro e as anunciadas pela CGTP terão condições para constituírem a rampa de lançamento para a maior exibição pública de repúdio dos cidadãos por este estado das coisas.
No i Ana Sá Lopes  reconhece que tirar aos pobres para dar aos ricos nunca foi um programa tão evidente. Parece que a paciência, efetivamente, acabou.
Porque, di-lo Pedro Marques Lopes no Diário de Notícias, que podemos dar por nós a pensar se não há um sério problema de legitimidade democrática quando se faz exatamente o oposto daquilo que se promete, a refletir sobre uma tão evidente falta de preparação para o exercício de tão importantes funções ou a cismar sobre tanta ausência de sentido de Estado.
A alternativa a deixar prosseguir esta catástrofe, prevê-a Fernando Sobral no Jornal de Negócios: Passos Coelho tornou-se o coveiro sorridente de Portugal. Lembre-se: Midas acabou por morrer à fome. Até a comida em que tocava se transformava em ouro. Passos Coelho, refugiado na sua alquimia miserabilista, está a transformar Portugal num país onde tudo o que toca se transforma em chumbo. Um dia destes, de tanto tocar, só terá chumbo para comer. Tal como Midas, perecerá à fome. Porque nada restará para comer. Nem restará país para governar.
No outro diário dedicado à economia e às finanças, o Económico, José Reis Santos considera que na sexta-feira, o primeiro-ministro rasgou definitivamente o contrato que tinha estabelecido com os portugueses, confirmando que os alarmantes sinais de autismo político e social que tinha vindo a demonstrar são afinal genéticos e que governa apenas para gáudio de Bruxelas e Washington, escondendo-se nas saias dos mercados internacionais, do FMI e da Comissão Europeia.
Para mais, as contas da opinião pública e publicada são claras: estas medidas pouco beneficiarão o Estado, colhendo delas dividendos apenas um punhado de PME e essencialmente as grandes empresas.
O impacto no défice não será significativo, não se criará emprego, nem se estimulará o mercado interno.
 Apenas se confirmará o exturco de 40% da qualidade de vida a um povo já debilitado (em apenas um ano).
Nunca um governo democraticamente eleito tinha mostrado tamanho desrespeito e desprezo pelo povo português e se aproximado tanto da tirania social.
Da direita são muitas as vozes que se levantam contra esta forma de apressar a morte da classe média e a pauperização irreversível de muitos milhares de portugueses, e uma das mais recentes é ado insuspeito Francisco van Zeller, antigo presidente da CIP, que percebe com clareza que a criação de emprego será a última das consequências da redução das contribuições das empresas para a Segurança Social.
No próprio jornal, que o Governo tem privilegiado com as (más) notícias em primeira mão para as tornar menos odiosas, o Negócios, o diretor Pedro Santos Guerreiro não poupa nas críticas a Passos Coelho: o anúncio de medidas de austeridade feito pelo primeiro-ministro ao entardecer de sexta-feira, antes de um jogo de futebol, é uma tragédia. Não é o seu primeiro nem último ato, é a tragédia em curso. Tratá-lo com ligeireza, como o Governo fez, é transformá-lo numa comédia. Confessar que custa muito dar estas notícias, vitimizando-se, é transformá-la numa farsa. Infelizmente, o primeiro-ministro padece desse frequente exibicionismo da humildade, condói-se da sua missão.
É essa suposta humildade, assumida na lamentável mensagem no facebook, que leva alguns ainda a duvidar se, tão teimosamente a servir de marionete a quem lhe dá orientações na sombra, Passos Coelho compreenderá verdadeiramente o que está verdadeiramente em causa. Como transparece nas palavras de Sérgio Lavos no blogue Arrastão, que alerta para os perigos de acreditar primariamente no que disseram uns quantos gurus do neo-liberalismo:  o equilíbrio nas contribuições dos patrões e dos trabalhadores para a Segurança Social é uma experiência científica impulsionada pelo FMI e calorosamente abraçada por um Passos Coelho que tresleu Hayek e Milton Friedman e decidiu vestir o manto de salvador da pátria, custe o que custar.
Este tipo de experimentalismo já foi tentado antes noutros lugares. Por exemplo, o Chile de Pinochet, durante os anos 70.
As medidas radicais ensaiadas por uma equipa de friedmanianos apenas foram implementadas porque toda a contestação social foi fortemente reprimida pelo ditador. 
Apenas um ditador consegue governar contra o bem estar do povo.
Será que Passos Coelho sabe mesmo o que está a fazer? 
Voltamos, pois, ao início deste texto: é imperioso e urgente enterrar este governo o mais depressa possível, o que obriga todos os democratas de esquerda e de direita a unirem-se numa rejeição determinada do que já aconteceu, do que está anunciado acontecer e do que, por este andar, ainda pior surgirá. Porque, di-lo o escritor Eugénio Lisboa numa carta aberta a Passos Coelho que, hoje, uma grande parte da população portuguesa, sente-se exilada no seu próprio país, pelo delito de pedir mais justiça e mais equidade. Tanto uma como outra se fazem, cada dia, mais invisíveis. Há nisto, é claro, um perigo.


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