É inevitável ver os filmes assinados por Robert Redford a serem massacrados pelos críticos, que se apressam a classificá-los de académicos, entediantes e outros epítetos menos simpáticos.
Eu prefiro ressalvar o papel utilitário, que Redford desempenha no cinema norte-americano, não só por ser o produtor e distribuidor de muitos filmes independentes a partir da rampa de lançamento do seu festival e canal televisivo (Sundance), mas também pelos temas abordados nos seus filmes.
No caso de «A Conspiradora» temos um capitão nortista, que se batera valentemente no campo de batalha, e pressionado para defender, enquanto advogado, a única ré do julgamento dos assassinos de Abraham Lincoln.
À partida tudo opõe esse Frederick Aiken a Mary Surratt: a educação, a visão do mundo, a religião… mas ele é a representação naquele momento da célebre frase de Voltaire. ("Não estou de acordo com aquilo que dizeis, mas lutarei até ao fim para que vos seja possível dizê-lo." ). O que significa acreditar nos valores do direito à defesa e à presunção de inocência.
É claro que a história acabará mal, já que Mary será enforcada, de nada adiantando a demonstração brilhante da sua inocência. O poder político - representado no secretário da Defesa, interpretado por um quase irreconhecível Kevin Kline - mostra-se mais interessado nos efeitos práticos das suas decisões do que em respeitar a ética republicana contida na Constituição. E aqui os espectadores mais atentos não deixarão de constatar as semelhanças com o escândalo das prisões arbitrárias nas Guantanamos espalhadas por várias latitudes.
No que sugere pouco importa, pois, se os filmes de Redford são ou não grandes obras cinematográficas, já que valem por exporem com inteligência as contradições de uma América eivada de perversos desvios à matriz contida no seu principal documento identitário!
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