domingo, 30 de setembro de 2012

POLÍTICA: Estilhaçou-se o suposto consenso social que tanto agradava à troika!


Tudo começou verdadeiramente com a falência da Lehman Brothers em Setembro de 2008. Qual rio  que, antes de secar, ainda dá sinais enganadores de recuperado vigor, o capitalismo fundamentado no domínio dos mercados financeiros está em vias de ruir com fragor.
Multiplicam-se ações de rua, mobilizam-se bloggers e outras ferramentas da net, distribuem-se filmes, livros e cd’s com testemunhos de quem explica ou anuncia o advento de novos paradigmas - em suma, revivem-se as sábias palavras de Eric Hobsbawn em como estes são, de facto, tempos difíceis, mas bastante interessantes.
E as mudanças ganham súbita rapidez neste tipo de ambiente de crise. Tudo se acelera, encurtando as distâncias temporais entre as expectativas dos acontecimentos e a sua superação. Se Brecht fosse vivo encontraria razões de sobra para voltar a achar que aquele que está vivo não diga nunca NUNCA!
Bem podem os defensores dos princípios políticos, hoje em vias de serem atirados para o caixote do lixo, da falta de alternativas ou da imprescindibilidade das troikas, que as circunstâncias vão demonstrando a vacuidade dos seus discursos.
Reconhece Pedro Marques Lopes na sua coluna semanal no «Diário de Notícias», que a torrente de acontecimentos é tal que a palavra dita ou escrita já perdeu atualidade no segundo seguinte. Acontecimentos, estudos, notícias que seriam dissecadas e permaneceriam no espaço público muito tempo são rapidamente substituídos por outros. Não, agora não é só a voracidade dos media, a necessidade de manter o fluxo de notícias, o facto de vivermos afogados em informação e pseudoinformação. O clima está mais que propício à confusão de acontecimentos, aos mais variados conflitos, às mais estapafúrdias declarações, à confusão entre assuntos de facto relevantes e outros absurdamente irrelevantes.
Será desta confusão, que emergirá um quadro estruturado de discurso político capaz de redundar num tipo de organização de tipo novo assente numa maior participação dos cidadãos ou, ao invés, uma ditadura, que lhes maniete as bocas, os olhos e os ouvidos. Esperemos que, a bem da democracia, assistamos a uma substituição da falida democracia representativa por um novo modelo de democracia direta, como os islandeses já estão a experimentar.
É claro que existem alturas em que as sociedades parecem ilustrar na perfeição a teoria do caos: entre dois opostos, acabam por cair para um dos lados. Para Arménio Carlos, ao discursar na grande manifestação de ontem a tendência deverá ser a de uma reorientação para os direitos das maiorias: O povo está a perder o medo e a mostrar que quer ir para a frente, lutar pelo presente e salvaguardar o futuro das gerações."
É o que receiam muitos dos comentadores que viram com deleite a queda abrupta do governo de José Sócrates e a chegada da troika para, menos de ano e meio depois, darem-se conta de estar em risco todo o processo ideológico, que supunham imparável. É o que explica a espantosa intervenção de António Borges no Algarve. Constata o editorialista do «Diário de Noticias» que no momento em que o próprio Governo está empenhado na fase de rescaldo do fogo provocado pela TSU, e precisava de todos os bombeiros disponíveis, eis que surge António Borges, mais uma vez, como incendiário de serviço.
Adivinha-se no autor de tais palavras um lamento por ver destruído todo um cenário em que implicitamente deixa entrever, que se revia. Mas é a realidade com os seus indicadores sempre a desviarem-se para piores desempenhos, que demonstram a evidência descrita no mesmo jornal por José Manuel Pureza:  O Governo e a troika invocaram desde o início, em favor do seu programa para o País, a base social e política alargada de que dispunham. Essa base social, se alguma vez existiu, estilhaçou-se. A mentira do discurso da regeneração pelo empobrecimento ficou escancarada: um milhão e trezentas mil pessoas que podem e querem trabalhar e não conseguem trabalho; uma dívida que não para de crescer; um défice que em vez de recuar avança (será 124% do PIB em 2013) é realidade a mais para ser disfarçada em projeções de quem não sabe nada sobre o País nem sobre a vida para além do Excel.
Se o mês de Setembro reduziu a credibilidade do Governo à Insignificância, esperemos por um Outubro igualmente acelerado, que apresse o empurrão final de tal gente para as medíocres carreiras donde jamais deveriam ter emergido.

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