Já o disse aqui algumas vezes, mas justifica-se repeti-lo: nunca apostei na possibilidade de Passos Coelho cumprir o mandato de quatro anos para que foi eleito no ano transato, acreditando sim na sua condição de transitório fogo fátuo.
A sua qualidade enquanto político pareceu-me sempre tão limitada, que associava-lhe o percurso ao de um balão, enchendo-se e estoirando tão só demonstrasse o que está bem à vista: a evidência do conhecido princípio de Peter.
Só me enganei no prazo da sua durabilidade enquanto fenómeno transitório: julgava-o perdurável até às autárquicas do próximo ano e, afinal, nem aí deverá chegar. Já não será necessário o castigo democrático em eleições tão evidente se torna o repúdio generalizado dos vários estratos sociais por quanto tem ocorrido nestas últimas semanas.
Não vou ao exagero cometido pelo Miguel Sousa Tavares em comentário hoje enunciado na SIC segundo o qual nem três semanas se manterá em São Bento!
Valer-lhe-á o momento específico em que vivemos e os receios de um agravamento ainda mais dramático da conjuntura atual, com reflexos nas reações das entidades que constituem a troika e na dos célebres mercados. Mas a teimosia com que tenta levar até ao fim a sua absurda agenda ideológica está a deixá-lo tão isolado, até mesmo dentro dos partidos da coligação, que algo irá acontecer de forma a travar-lhe o ímpeto desestruturador de toda a sociedade portuguesa.
Já não é só o PCP, o Bloco de Esquerda ou a CGTP a pedirem a demissão urgente do governo. Nos últimos dias têm-se multiplicado as intervenções de muitos políticos, patrões e ex-dirigentes do PSD no sentido de exigirem o chumbo do orçamento para 2013. Aquele que tem sido preparado por Vítor Gaspar com a ajuda de Carlos Moedas, António Borges e Braga de Macedo de acordo com a visão mais fundamentalista produzida pelos movimentos ultraliberais.
Estes gurus, que congeminaram cenários utópicos nas suas folhas de excel, devem estar atordoados com a tempestade desencadeada pelas intervenções mais recentes do primeiro-ministro e do seu ministro das finanças. No íntimo ainda são capazes de considerar quão ingrato é este povo, que se está a levantar ostensivamente contra as «bondosas» intenções de promoverem o crescimento do emprego e do PIB à conta da redução dos custos do trabalho, fazendo-o mais competitivo do que o produzido na China ou no Vietname.
E, parafraseando um célebre poema do Bertolt Brecht, que pena terão de não poderem demitir o povo, ou, em última instância, «adoçarem-no» com a ajuda de um qualquer Pinochet.
Mas, azar deles, até os militares no ativo já andam a considerar a justeza de retomarem o espírito de abril e virem para a rua defender a constituição, que estes efémeros governantes tanto execram!
Vivemos o fim de um ciclo, que teve lamentável início com o chumbo do PEC 4 por quem prometia soluções alternativas, que jamais passariam por mais impostos ou desemprego. Passado pouco mais de um ano o resultado está à vista com todos os indicadores macroeconómicos no vermelho vivo!
Aproveitando a oportunidade histórica de se estar a verificar uma viragem à esquerda nos principais países da União Europeia, esperemos que as diversas forças políticas portuguesas mais conotadas com a defesa dos direitos dos cidadãos saibam honrar a sua génese e, em vez do habitual sectarismo em que se costumam fragmentam, possam unir-se no propósito de infletirem o curso catastrófico tomado por esta governação…
Porque o que as deve unir será muito mais importante do que os interesses particulares em que se costumam engalfinhar. E a primeira atitude só poderá ser a de transformar a manifestação de amanhã, dia 15, numa grandiosa jornada de contestação do governo e das suas políticas.
É por isso que importa estra ali presente e ostentar a capacidade de indignação, que deverá pôr cobro a tanta iniquidade e incompetência…
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