Há quinze meses o governo de José Sócrates caiu na sequência de uma campanha alicerçada na conjugação de cinco setores particularmente atiçados contra as suas políticas:
· os magistrados, que não lhe perdoavam a redução de privilégios corporativos de que usufruíam e continuam a usufruir;
· os banqueiros, que tinham lucrado fortunas com as grandes obras públicas e viram na viragem do ciclo político a forma de continuarem a enriquecer com a compra das dívidas soberanas;
· alguns jornalistas de deontologia particularmente duvidosa que, nos seus pasquins e telejornais, patrocinaram um assassínio do carácter do primeiro-ministro de então como nunca se tinha visto;
· os professores que, comandados pela FENPROF do dirigente comunista Mário Nogueira, puseram em causa o programa destinado a uma escola de maior qualidade, quando existia uma aposta clara na melhoria das capacidades de todos os portugueses através do programa das Novas Oportunidades, que tanto emprego lhes facultava;
· os farmacêuticos que, liderados pela sua organização mais representativa , ainda estavam a atuar de forma revanchista contra o Partido Socialista, que procurara retirar-lhes o monopólio através das farmácias nos hospitais;
Não deixa de ser curioso que, completamente desbaratados estes dois últimos setores profissionais pelas políticas do governo de Passos Coelho, que agudizou a situação de desemprego para os professores e condenou seiscentas farmácias à falência, os três outros setores se tenham unido nos últimos dias - mais precisamente desde a manifestação do dia 15 de setembro - para voltar a retirar das gavetas velhos fantasmas ou multiplicar elogios a um Governo ferido de morte.
Este facto indicia bem o receio de tais setores em verem Portugal sair do atoleiro em que só alguns beneficiam claramente da crise e pretendem prolonga-la tanto quanto possível. Senão vejamos: é o próprio Procurador Pinto Monteiro quem reconhece que, em tantos anos de magistratura, nunca terá visto um acórdão como o emitido no julgamento do caso Freeport, por ele liminarmente classificado de processo político. Da mesma forma a magistratura decidiu avançar com mediáticas buscas na casa de três ex-governantes socialistas exatamente no momento em que as baterias estavam apontadas ao rotundo fracasso das políticas de austeridade de Passos Coelho.
É claro que não sobram dúvidas de que a demonstrada inocência futura de tais políticos dificilmente será resgatada da lama a eles endereçada por estas ações oportunistas “convenientemente” mediatizadas pelos suspeitos do costume, aos quais os jornalistas honestos são obrigados a colar-se sob pena de se verem acusados de omitirem informação tida por relevante.
A tudo isto somam-se os rasgados elogios de Ricardo Salgado e Fernando Ulrich à suposta recuperação das finanças públicas numa repetição de um tipo de discurso já emitido por António Borges há algumas semanas e então ouvidas como paradigma das anedotas sem graça.
É claro que ao vermos tais afirmações só nos podemos lembrar como foram eles os principais responsáveis pela vinda da troika ao acossarem despudoradamente o governo de Sócrates sob a invocação de falsas ilações de, então, já não existir dinheiro para pagar ordenados aos funcionários públicos ou pensões aos reformados.
A complementar esta atividade de tentativa de recauchutagem a uma estratégia, que já meteu água por todos os lados, soma-se a decisão da coligação PSD/CDS em reduzir as contribuições para os partidos e para as campanhas eleitorais num discurso demagógico, que esconde o essencial: os atuais políticos são tão medíocres que acautelam remunerações das funções públicas tão baixas quanto possíveis, de forma a delas fazer desertar os mais competentes, aqueles cujo conhecimento poderia contribuir para a implementação de outro tipo de governação...
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