sábado, 1 de setembro de 2012

POLÍTICA: é altura de deixar de ser bom aluno!


Se hora a hora Deus melhora, dia-a-dia o desemprego piora em Portugal. Segundo o Eurostat a taxa de desemprego em Junho e Julho foi de 15,7%, os valores mais elevados alguma vez registados no país, e que João Proença, secretário-geral da UGT, estima vir a chegar rapidamente aos 17%. E não estaria apenas a pensar nos quarenta e três mil professores, que se candidataram ao concurso para contratação inicial e renovação de contrato e ficaram de fora. O que equivale a dizer que mais de 85% dos professores contratados que se apresentaram a concurso não foram colocados para o próximo ano letivo, que arranca dentro de dez dias.
Hoje é  evidente o falhanço completo da estratégia de Passos Coelho e dos seus ministros em irem muito além do memorando assinado pelo Governo de José Sócrates com a troika e aplicarem um conjunto de medidas, que arrastaram o país para a recessão e para o desemprego massivo da sua população ativa.
Para quem fez cair o governo anterior por considerar inaceitáveis as medidas anunciadas no PEC4, o balanço da sua ação só pode ser comparado como extremamente dececionante por quem quis crer na competência e nas boas intenções dos que se apressaram a agarrar o “pote”, expressão emblemática de Passos Coelho. Escreve Mariana Vieira da Silva no «Económico»: O governo falhou na sua estratégia de ir além da troika e de acelerar o processo de ajustamento. O desemprego é bem mais alto do que o governo esperava, a economia abrandou mais do que o governo previa, a receita esteve abaixo do previsto apesar do aumento generalizado de impostos e o défice anunciado pelo governo não vai ser cumprido. Resumindo: mais sacrifícios trouxeram piores resultados orçamentais.  
Que os sacrifícios não são para todos informaram-nos os jornais com a notícia de terem sido 131 os assessores do Governo a receberem subsídios de férias e de Natal, quando funcionários públicos, reformados e pensionistas eram deles espoliados.
Mas podemos sempre contar com o inefável António Borges a dizer que o país vive, finalmente, "dentro das suas possibilidades", ou seja, como diz Paulo Pinto no «Jugular», com 1/4 de desempregados, empobrecido, mal-pago e com a educação pública, o serviço nacional de saúde e a proteção social a saque. É, portanto, este o radioso horizonte que é apresentado.
Mas João Rodrigues convida-nos a não diabolizarmos António Borges no «Ladrão de Bicicletas»:  Ele está apenas a tratar da vidinha e dos interesses que o rodeiam. Não se perde uma oportunidade destas para ir ao pote e abocanhar serviços públicos e bens coletivos. É por isso que o «aquashow» tem que continuar. À custa da economia e de todos nós, evidentemente.
Liberto dos seus compromissos na CGTP, Carvalho da Silva comenta no «Jornal de Notícias» que a austeridade empobrece e quanto mais se empobrece menos possível se torna pagar dívidas. Para pagar dívidas é preciso, no mínimo, que os portugueses tenham um trabalho produtivo e um salário digno (emprego) e nós estamos a ficar ou desempregados, ou com piores empregos.
Para Elisa Ferreira, que deu uma aula na Universidade de Verão do PS, o único caminho possível para Portugal é deixar de se menorizar a condição de bom aluno, mas exigir o respeito pelo seu papel de parceiro europeu: tem de atuar ao nível europeu, não pode estar passivo em relação à agenda europeia. Porque a promessa da integração europeia estão longe de se cumprir: os desequilíbrios aumentaram imenso e os países são chamados a resolver, praticamente só pelos seus próprios meios, as crises e os ajustamentos quando entregaram a nível europeu a maior parte dos instrumentos necessários ao relançamento da economia.


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