Se
hora a hora Deus melhora, dia-a-dia o desemprego piora em Portugal. Segundo o
Eurostat a taxa de desemprego em Junho e Julho foi de 15,7%, os valores mais
elevados alguma vez registados no país, e que João Proença, secretário-geral da
UGT, estima vir a chegar rapidamente aos 17%. E não estaria apenas a pensar nos
quarenta e três mil professores, que se candidataram ao concurso para
contratação inicial e renovação de contrato e ficaram de fora. O que equivale a
dizer que mais de 85% dos professores contratados que se apresentaram a
concurso não foram colocados para o próximo ano letivo, que arranca dentro de
dez dias.
Hoje
é evidente o falhanço completo da estratégia de Passos Coelho e dos
seus ministros em irem muito além do memorando assinado pelo Governo de José
Sócrates com a troika e aplicarem um conjunto de medidas, que arrastaram o país
para a recessão e para o desemprego massivo da sua população ativa.
Para
quem fez cair o governo anterior por considerar inaceitáveis as medidas
anunciadas no PEC4, o balanço da sua ação só pode ser comparado como
extremamente dececionante por quem quis crer na competência e nas boas intenções
dos que se apressaram a agarrar o “pote”, expressão emblemática de Passos
Coelho. Escreve Mariana Vieira da Silva no «Económico»: O governo
falhou na sua estratégia de ir além da troika e de acelerar o processo de
ajustamento. O desemprego é bem mais alto do que o governo esperava, a economia
abrandou mais do que o governo previa, a receita esteve abaixo do previsto
apesar do aumento generalizado de impostos e o défice anunciado pelo governo
não vai ser cumprido. Resumindo: mais sacrifícios trouxeram piores resultados
orçamentais.
Que
os sacrifícios não são para todos informaram-nos os jornais com a notícia de
terem sido 131 os assessores do Governo a receberem subsídios de férias e de
Natal, quando funcionários públicos, reformados e pensionistas eram deles
espoliados.
Mas
podemos sempre contar com o inefável António Borges a dizer que o país vive,
finalmente, "dentro das suas possibilidades", ou seja,
como diz Paulo Pinto no «Jugular», com 1/4 de desempregados,
empobrecido, mal-pago e com a educação pública, o serviço nacional de saúde e a
proteção social a saque. É, portanto, este o radioso horizonte que é
apresentado.
Mas
João Rodrigues convida-nos a não diabolizarmos António Borges no «Ladrão de
Bicicletas»: Ele está apenas a tratar da vidinha
e dos interesses que o rodeiam. Não se perde uma oportunidade
destas para ir ao pote e abocanhar serviços públicos e bens coletivos. É por
isso que o «aquashow» tem que continuar. À custa da economia e de todos nós,
evidentemente.
Liberto
dos seus compromissos na CGTP, Carvalho da Silva comenta no «Jornal de
Notícias» que a austeridade empobrece e quanto mais se empobrece menos
possível se torna pagar dívidas. Para pagar dívidas é preciso, no mínimo, que
os portugueses tenham um trabalho produtivo e um salário digno (emprego) e nós
estamos a ficar ou desempregados, ou com piores empregos.
Para
Elisa Ferreira, que deu uma aula na Universidade de Verão do PS, o único
caminho possível para Portugal é deixar de se menorizar a condição de bom
aluno, mas exigir o respeito pelo seu papel de parceiro europeu: tem de
atuar ao nível europeu, não pode estar passivo em relação à agenda europeia. Porque
a promessa da integração europeia estão longe de se cumprir: os
desequilíbrios aumentaram imenso e os países são chamados a resolver,
praticamente só pelos seus próprios meios, as crises e os ajustamentos quando
entregaram a nível europeu a maior parte dos instrumentos necessários ao
relançamento da economia.
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