Marcel Carné tem 37 anos e seis filmes já realizados, dos quais cinco considerados como clássicos, quando inicia a rodagem de «Enfants du Paradis» e tinha acabado de realizar «Les Visiteurs du Sir», que foi um dos maiores êxitos do cinema francês durante a Segunda Guerra Mundial.
Tendo assinado contrato para rodar três filmes com o produtor André Paulvé, perspetiva começar por «Nana» segundo Émile Zola, seguindo-se-lhe «Milord d’Arsouille» e «A Lanterna Mágica», quando encontra Jean-Louis Barrault em Nice por mero acaso, ator com quem já trabalhara em «Jenny» (1936) e «Drôle de Drame» (1937).
É ele quem lhe fala do mimo Jean Baptiste Debureau, que vivera no século XIX e criara a arte da pantomina no Teatro dos Funâmbulos, uma das salas mais conhecidas no Boulevard du Temple em Paris e se tornara conhecido por matar um bêbedo que o importunava. Barrault recorda-se de ter sentido a mesma excitação já vivida anteriormente, quando asistira ao primeiro filme falado de Charles Chaplin.
Nasce então a ideia de um filme que confrontaria o teatro falado e o mimo e onde o célebre ator da mesma época Frédérik Lemaître, tão elogiado por Victor Hugo ou Alfred de Vigny, também apareceria.
Jacques Prévert, que não apreciava a pantomina, não se interessou muito pelo projeto. Aceita-o, porém, quando se dá conta de que poderá igualmente inserir outro personagem histórico, Pierre-François Lacenaire, um criminoso diletante, que o fascinava. Como comentraria depois: Ninguém me permitiria fazer um filme sobre lacenaire, mas posso sempre metê-lo num filme sobre Debureau.
Uma vez decidida a equipa Carné muda-se para o sul da França, então ocupada pelos nazis. Jacques Prévert escreve o argumento, Alexandre Trauner esboça os cenários que serão assinados por Léon Barsaq por aquele ser judeu, enquanto Joseph Kosma é contratado para compor a música, depois assinada e desenvolvida por Maurice Thiriet pelas mesmas razões.
Carné coordena todos esses trabalhos e volta regularmente de Paris com montanhas de documentação requisitada a museus e outras instituições.
Desde que é conceptualizado, «Les Enfants du Paradis» será uma aventura coletiva, o que ajuda a explicar o seu sucesso.
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