domingo, 12 de agosto de 2012

Quando a China aterrar ...


Estará a desfazer-se o mito do crescimento chinês, que tenderia a levar o grande país asiático a ultrapassar os EUA em criação de riqueza?
A realidade parece comprová-lo de acordo com a reportagem de Ursula Gauthier para o «Nouvel Observateur» de 2 de agosto:
Dezenas de aeroportos novos e vazios, linhas de TGV sem passageiros, vastas redes de autoestradas desertas, milhares de prédios públicos faraónicos para abrigar quanto muito uma câmara municipal, cidades fantasmas, fundições de alumínio novinhas em folha e paradas…
Nos portos acumula-se carvão importado em silos e nos cais. O nível dos stocks chegou a tal dimensão que os navios têm de esperar cada vez mais tempo para conseguirem descarregar a sua carga.
Nas províncias do interior, aonde se produz carvão, replica-se o mesmo cenário de quantidades impressionantes alinhadas ao longo das estradas e preenchendo os terrenos outrora vagos.
A China perde velocidade. As autoridades voltaram a baixar os juros pela segunda vez em menos de um mês para impulsionarem o consumo.
Já se sente pânico em Pequim, onde reina o dogma dos 8% de crescimento sem o qual se arrisca o caos pela impossibilidade de se criarem suficiente emprego para os milhões de jovens camponeses apostados em abandonarem a sua escravidão, trocando-a pela promessa de vida mais fácil na cidade.
É fácil comparar o país de Mao a um enorme avião, que parecia pairar sobre os continentes sem que nada o pudesse atingir. Agora não sobram dúvidas quanto a estar a perder altitude: Alguns comentadores já se interrogam se a China irá aterrar suavemente ou catastroficamente.
E, no entanto, não é difícil adivinhar a origem desta situação:  a quebra nas exportações. O motor principal do sucesso chinês - representativo de 40% da sua atividade económica - foi atingido violentamente pela crise na zona euro.
Tudo começou em 2008, quando a crise financeira deu o primeiro golpe nas exportações. Para manter os níveis de crescimento as autoridades decidiram abrir então as válvulas do crédito bancário. E, como a China vê tudo em grande, provocou a mais gigantesca inundação financeira da história humana.
Esse fluxo de dinheiro fácil alimentou milhentos investimentos de rentabilidade duvidosa. E um frenesim imobiliário que suscita uma especulação desenfreada.
Resultado: enormes fortunas obtidas em poucos meses, uma corrupção galopante, uma inflação que tornou impossível à classe média a compra de apartamento.
Como a economia alicerçou a sua estratégia no setor imobiliário, a sua explosão arrisca provocar um massacre. O país cobriu-se de uma incrível vaga de construções. Estaleiros a perder de vista com operários a trabalharem noite e dia, sete dias por semana.
Hoje numerosos estaleiros param ou trabalham devagar, com as equipas a só trabalharem oito horas e a descansarem um dia por semana.
A explosão desta gigantesca bolha financeira, segundo alguns à beira de ocorrer, ameaça pôr um ponto final nos trinta gloriosos anos chineses.
No entanto a China acaba de anunciar a construção de setenta novos aeroportos para reavivar o seu crescimento. Para Andy Xie, economista que previu diversas crises dos últimos anos comenta que isso equivale a matar a sede bebendo peixe...

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