Numa cidade como Paris não é difícil encontrar motivos de excitação quanto a grandes acontecimentos culturais a decorrerem, mas de entre eles o início da nova temporada da Cinemateca com a reapresentação e uma grande exposição sobre «Les Enfants du Paradis» de Marcel Carné assume particular destaque. Sobretudo para quem integra esse filme na restrita seleção de obras a levar para a suposta ilha deserta.
Estreado em Março de 1945 fora rodado ainda durante a Ocupação e em duas partes para cumprir a legislação de Vichy, que impedia os filmes comerciais de terem mais de noventa minutos. E a sua rodagem fora complicada com colaboração de judeus na clandestinidade (Alexander Trauner e Joseph Kosma) e de atores colaboracionistas: Robert Le Vigan (a quem a Resistência condenara à morte e obrigaria a substituir as cenas em que entrava por Pierre Renoir) e Arletty, que se gabava de ser francesa de coração, mas internacional quanto ao respetivo traseiro.
Mas a reprodução do ambiente teatral parisiense do século XIX, os diálogos do poeta Jacques Prévert e as interpretações de Barrault e de Arletty tornam a obra sublime, incomparável com qualquer outra…
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