quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Filme: «Einsatzgruppen » de Michaël Prazan


Ao jornal «Le Monde» que, um ano antes da sua norte, lhe pedira um balanço dos conhecimentos sobre o Holocausto, o historiador norte-americano Raul Hilberg, autor de uma obra de referencia («A Destruição dos Judeus») respondeu assim: ainda que o genocídio dos judeus tenha sido objeto de um incomensurável número de trabalhos, subsistem áreas desconhecidas dessa história por decifrar. Sobretudo a referente aos massacres perpetrados no leste europeu, nos territórios ocupados pelos nazis durante a segunda guerra mundial e depois controlados pelos soviéticos a partir de 1945.


Ora é precisamente esse o tema do terrível documentário de Michaël Prazan. Constituído por imagens e testemunhos insuportáveis, alimentado por intervenções de universitários reputados (Christopher Browning, Christian Ingrao), o filme em dois episódios mergulha o espectador no inferno absoluto em que, a partir do verão de 1941, se converteu essa vasta parcela da Europa situada entre o Báltico e o Mar Negro, da Estónia à Roménia, passando pela Bielorrússia e pela Ucrânia. Ou seja, antes mesmo de se ficarem operacionais os campos de extermínio de Auschwitz-Birkenau, Belzec, Chelmno, Sobibor ou Treblinka.

O título do documentário, Einsatzgruppen, reporta-se aos homens encarregados de tornar essas regiões livres de judeus. Comandados por Reinhard Heydrich, que estava na direta dependência de Heinrich Himmler, estes «grupos móveis de assassinatos» (segundo a expressão de Raul Hilberg) tinham mais de três mil elementos. Homens jovens, entre os 25 e os 40 anos, cujos quadros tinham licenciaturas de direito ou de economia.

Da sanguinária odisseia dos Einsatzgruppen, que cometeram os seus crimes à boleia da Wehrmacht, o filme reconstitui todas as etapas. Lembra que os primeiros massacres em grande escala aconteceram logo no início da guerra da Alemanha contra a URSS a 22 de junho de 1941. Mostra também que, o que era à partida um extermínio direcionado visando prioritariamente os homens em idade de combater, tornou-se em tão poucas semanas num genocídio no sentido mais literal do termo: mulheres, crianças e idosos eram sistematicamente liquidados a partir de julho-agosto de 1941.

O documentário dá, igualmente, e a partir de alguns exemplos, uma perspetiva da intensidade dos massacres.

no fim de agosto de 1941 bastaram três dias para que 23600 judeus de Katemenets-Podolski fossem assassinados;

No mês seguinte, 33700 judeus foram assassinados na ravina de Babi Yar, perto de Kiev;

A eficacia Einsatzgruppen era tal que os 200 mil judeus existentes nos três países bálticos já tinham desaparecido a partir de dezembro de 1941.

Famílias à espera de serem fusiladas à beira de fossas pejadas de cadáveres; alinhamento de enforcados pendurados das árvores e varandas de aldeiazinhas; ruas juncadas de cadáveres a quem ninguém liga; mulheres nuas a tremerem sob o olhar indiferente ou divertido dos seus carrascos.

O mais incrível é que tudo isso tenha sido fotografado e filmado: durante os fuzilamentos os soldados alemães iam buscar as suas câmaras e registavam testemunhos, conta uma testemunha lituana.

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