sexta-feira, 17 de agosto de 2012

POLÍTICA: Mercados e Povos


Na edição da New Left Review de Março/Abril transato surge um artigo bastante interessante de Wolfgang Streek intitulado «Markets and Peoples» aonde se reforça a ideia do autor em como existe uma contradição concetual entre o capitalismo financeiro e a democracia burguesa tal qual a temos conhecido nas últimas décadas.
Por muito que se queira manter a ilusão democrática de escolhas dos governantes mediante o voto - e por muito que, por exemplo, se tenha criado uma enorme coligação quer interna, quer externa, para que o Syriza não ganhasse as mais recentes eleições gregas! - será crível que a probabilidade de recorrência de tal «êxito» está longe de garantida.
Assim, em caso de, parafraseando António Aleixo, o povo vier a «querer um mundo novo a sério», que tipo de ditadura substituirá o regime constitucional dos países europeus?
Constata o autor: Antes pretendiam-se líderes que entendessem e falassem a linguagem popular. Agora é a linguagem do dinheiro que têm de dominar. Os que sussurravam ao povo são agora substituídos pelos que entendem os sussurros do capital, esperando-se que conheçam todos os truques secretos necessários para garantir o pagamento dos dividendos dos investidores.
Dado que a confiança nos investidores é mais importante  do que a dos eleitores, quer a esquerda, quer a direita veem na tomada do poder pelos homens de confiança do capital, não como um problema, mas como uma solução.
Não existem assim vozes suficientemente fortes e avisadas para relacionar Mario Draghi, Mario Monti ou Lukas Papademos com a Goldman Sachs, de que foram fiéis servidores, e se prestam a continuar a sê-lo.
O desafio para a esquerda europeia, que andou anos a acreditar na sua capacidade em tornar mais eficiente e justo o capitalismo como se fosse possível prolongar a época doirada dos Trinta Gloriosos Anos do pós-guerra, é dissociar-se da falaciosa Terceira Via e pensar nas alternativas que lhe cabem apresentar...
Numa perspectiva pessimista, Streek constata que os sindicatos estão a desaparecer, o capital só escuta os presidentes dos bancos centrais rejeitando ouvir os partidos políticos e o dinheiro dos ricos está por todo o lado e por nenhum, em função da maior ou menor ameaça dos inspetores fiscais.
Só nos podemos interrogar sobre que ópio quererão agora induzir no povo esses especuladores uma vez que a droga do crédito da era da globalização está a deixar de funcionar e se pretende garantir uma ditadura estável de quem é rico?
Podemos esperar que se lhes terão esgotado as ideias?
Esperemos que sim. Que não lhes sobre mais fado, futebol ou Fátima. Ou qualquer dos seus substitutos nas demais nações europeias.
A perspetiva virtual em que se situam os políticos ocidentais não prenuncia nada de bom à medida que os indicadores financeiros forem revelando a falência das suas absurdas estratégias...

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