segunda-feira, 27 de agosto de 2012

FILME: ««Millenium 3: A Rainha no Palácio das Correntes de Ar» de Daniel Alfredson



Hollywood brinda-nos amiúde com tanta porcaria, que acedermos a um filme honesto de origem sueca baseado na trilogia de Stieg Larsson constitui alternativa aliciante quanto mais não seja pela qualidade de entretenimento garantida. Até porque os maus são aqui gente aparentemente impoluta e situada no topo da pirâmide social, contrariados por jornalistas corajosos, hackers habilidosos e médicos interessados pelos seus pacientes. E ver assim invertida a lógica ideológica com que somos constantemente bombardeados traz alguma satisfação...
Ao princípio não é fácil compreender toda a trama até porque o segundo episódio da série já estava distante da memória. Mas depois os acontecimentos encadeiam-se e começam a fazer sentido. Vem então ao de cima a tal Suécia, que também os romances de Mankell evocam: a desse lado sombrio, responsável pela morte de Olof Palme hoje provavelmente comprometido na conspiração para entregar Julian Assange aos tribunais americanos e calar de vez a incómoda voz do criador do Wikileaks.
Nesse sentido a Suécia perdeu, á conta dos sus romancistas, aquela imagem idílica tão propagada em tempos à conta do seu Estado Social e do apoio aos movimentos políticos mais progressistas sos anos 60 e 70.
Porque Larsson desapareceu antes de aprofundar as aventuras das suas personagens - que projetava explorar em mais sete romances - existem fragilidades de argumento, que poderiam não o ser se as entendêssemos num contexto mais alargado - por exemplo quais os objetivos pretendidos pela Seção criada na época da fuga do desertor soviético Zalachenko e o seu congelamento tão só afastado o governo de direita a cuja sombra se formara. No que seria tão embaraçosa a sua atividade para justificar o regresso dos seus agentes já reformados?
Ou porque é que Niedermann, meio-irmão de Liabeth Salander, permaneceria tão focalizado na sua morte sem se lhe adivinharem objetivos mais ideológicos.
A realização de Alfredson não é isenta de reparos por deixar pontas soltas aqui e acolá, que não chegam a ser utilizadas. Mas a história não perde credibilidade e vê-se com agrado.

Sem comentários:

Enviar um comentário