terça-feira, 28 de agosto de 2012

POLÍTICA: O boomerang que acertou em Vítor Gaspar


No «Expresso» de sábado transato, Miguel Sousa Tavares continua a emitir opiniões ainda tidas por minoritárias perante uma plêiade de comentadores enfeudados às doutrinas neoliberais, mas cada vez mais presentes em quem não se aceita como corifeu de uma realidade insuportável.
Não se tratando de nenhum perigoso marxista-leninista não deixa de ser curiosa a forma como ele descreve a realidade política atual: o processo ideológico de desforra do capital contra o trabalho, conhecido por ajustamento da economia portuguesa, e que consiste fundamentalmente na promoção deliberada do desemprego e na sua desregulação social como forma de embaratecimento do custo do trabalho, não é afinal suficiente e não produziu os efeitos desejados.
Os resultados estão, infelizmente, à vista: longe de nos termos tornado mais competitivos, tornámo-nos 10% menos competitivos em termos de custos sociais do trabalho.
Temos, pois, um mistério singular: as equações económicas no papel de acordo com a visão primária dos gurus de Chicago e de Stanford pareciam matematicamente tão certinhas e dão afinal resultados tão contrários ao expectável?
Acusa Miguel Sousa Tavares: mais um mistério criado por esta brilhante geração de economistas e de ideólogos da economia, que nos trouxeram até onde estamos. E, se eles não sabem e não conseguem explicar onde está a origem do problema, sabem qual é a solução: baixar ainda mais os salários e deixar crescer ainda mais o número de desempregados, como forma de pressionar em baixa o valor do trabalho contratado.
Vemos, assim, a persistência no erro, a crença insensata em como há que prosseguir na mesma via de embater estupidamente contra a realidade dos factos na esperança de a ver, enfim, coadunar-se com as promessas eleitorais com que enganaram o incauto eleitorado.
Conclui Miguel Sousa Tavares: quando eu estudei economia (…) Keynes ou J.F. Galbraith explicavam que uma economia com uma taxa de desemprego de 20% era necessariamente uma economia falhada de um país falhado. Hoje dizem-nos que é uma economia em processo de ajustamento…
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Na mesma edição do «Expresso», Cristina Figueiredo recorda como, há um ano atrás, Vítor Gaspar denegrira habilidosamente a herança de José Sócrates e agora vê o feitiço virar-se contra o feiticeiro:
Três mil milhões de euros de derrapagem orçamental, um défice que, no final do ano, deve ficar bem além dos 5%. Qual boomerang, o «desvio colossal» de há um ano volta ao remetente…
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Embora o texto em si não tenha grande novidade - a não ser pelos palavrões que nele se inserem - o libelo de Juan José Millas publicado no «El Pais» só demonstra como vai crescendo a frente de intelectuais decididos a participarem no esforço de cidadania de combate ao capital financeiro.
Ora as lutas contra a injustiça começam por ser quase sempre a dos intelectuais apostados em a denunciarem.
Diz o escritor espanhol: a economia financeira não se contenta com a mais-valia do capitalismo clássico. Precisa também do nosso sangue e está nele, por isso brinca com a nossa saúde pública e com a nossa educação e com a nossa justiça da mesma forma que um terrorista doentio, passo a redundância, brinca enfiando o cano da sua pistola no rabo do sequestrado.
A comparação mais exata do texto de Millás é essa entre os especuladores financeiros e os terroristas. E entre ambos os mais letais não serão propriamente os seguidores dos autores dos atentados de 11 de Setembro: se formos a avaliar a quantidade de vítimas dos atos de uns e de outros, facilmente concluímos não haver comparação entre os milhares que uns mataram nos seus voos suicidas às Torres Gémeas com os milhões, que morrem de desespero, de fome, de miséria, de impossibilidade em cumprirem os seus mais legítimos sonhos enquanto seres humanos.
Saddam ou Bin Laden eram tenebrosos, mas os donos de Wall Street ou da City londrina não o são menos… e têm entre nós fidelíssimos discípulos...


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