quinta-feira, 16 de agosto de 2012

FILME: «Mel» de Semih Kaplanoglu (2010)



Será difícil desinfetar os olhares dos espetadores ocidentais da contaminação criada pelo cinema de Hollywood, através de um cânone, que manda gostar de um filme se ele tiver algumas das características fundamentais de um dos géneros por que se divide a sua atividade.
Para o público de gostos mais básicos basta uma fotografia tipo postal ilustrado, muita ação à força de murros e tiros, ou de perseguições automobilísticas, para que, somada a atrizes concupiscentes, atores de bíceps apreciáveis e um arremedo de argumento minimamente carpinteirado, o transformem em pacífico ruminador de pipocas.
Com tal «educação» do público não se estranha a incapacidade do cinema de outra ambição em chegar a quem o deveria apreciar.
Nesse sentido «Mel» até nem é um exemplo maior. Embora dê para trazer esta equação a talhe de foice. É que dê-se algo de diferente ao público estandardizado e ele rejeita.
Aqui temos uma história passada na Turquia profunda aonde os homens são apicultores e as mulheres se afadigam na colheita do chá. A cidade está distante e chega, sobretudo, através da escola, o local aonde se premeiam os melhores e se castigam os incumpridores (mesmo que injustiçados).
Homens, mulheres e crianças vivem, sobretudo, de acordo com os ciclos da natureza, colhendo o que ela dá (os ovos, o leite e o mel, que integram a trilogia do realizador concluída com este último título!).
Só que as circunstâncias em que viviam vão mudando e as abelhas desapareceram da região deixando vazias as colmeias. E os homens vão arriscar, se não mesmo perder a vida, nas encostas traiçoeiras do Karacorum.
Testemunha quase silenciosa de todo o drama a decorrer à sua volta está o pequeno Yusuf, que tem grandes dificuldades de comunicação: apenas o pai conseguia o seu discurso contínuo através de palavras sussurradas. Esse pai que, enquanto referência incontornável, o deixa órfão não só no sentido restrito (o de família), mas também de conhecimentos, de filosofia de vida.
E o filme conclui-se pela improbabilidade de existir um futuro para o próprio Yusuf, que parte à procura do defunto nas florestas aonde ele se perdera...

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