Na semana em que se estreou o mais recente filme de Abel Ferrara, sobre a forma de reagir ao apocalipse (4:44 Último Dia na Terra), vale a pena colocá-lo em paralelo com um dos grandes títulos do ano em curso - Cosmopolis de David Cronenberg - apesar do pouco entusiasmo da crítica a respeito de qualquer deles.
O que está em causa é a representação de uma era tal qual a conhecemos. Para Ferrara sem qualquer hipótese de redenção, já que o final será inexorável. Mas, para Cronenberg, ou melhor ainda para Don DeLillo, o autor do romance, é o capitalismo financeiro, que está a conhecer o seu dobre de finados. Sem significar o fim da sociedade humana, que saberá ser resiliente a mais um desafio...
É certo que não se propõe qualquer alternativa, seja utópica, seja distópica. Mas o mundo, tal qual é visto pelos donos de Wall Street ou da City londrina, já não consegue ser reformatado á luz dos seus desejos. Há demasiado desespero e miséria à solta pelas ruas das grandes cidades. Tornando inevitável a iminente ultrapassagem da presente fase de abulia em algo de intensamente revolucionário.
O que o personagem interpretado por Robert Pattinson representa é a incapacidade em estabelecer qualquer ponte com a realidade concreta, quando ruem os cenários virtuais em que assentou todo o seu sucesso.
E se o mundo financeiro acreditou que bastaria mudar de continente substituindo pigs por brics, o som gripado do motor movido pelas transações bolsistas a par da redução dos índices de crescimento chinês, indiano ou brasileiro aí estão a comprovar que foram as receitas destinadas a suscitar desigualdades obscenas entre ricos e pobres, que estão a fazer tombar os instáveis castelos de cartas sobre que repousavam todas as suas certezas.
Os anos que virão podem parecer inquietantes para muitos - a começar pelos jovens, que não encontram emprego - mas prometem ser assaz interessantes para quem os estudar sociologicamente num futuro distante...
Sem comentários:
Enviar um comentário