Sem surpresa já todos percebemos a quem Miguel Relvas quer entregar a RTP: aos mesmos interesses angolanos, que já estão a financiar o jornal «Sol» e que não se sabe propriamente quem representam muito embora não se adivinhem propriamente distantes da família e dos amigos de José Eduardo dos Santos. E que não hesitaram em criar uma nova empresa, a Pineview Overseas, S.A., com sede na cidade do Panamá, precisamente com tal objetivo.
Compreende-se assim o entusiasmo com que se preparou o lamentável espetáculo de Fátima Campos Ferreira num «Prós e Contras» de há alguns meses, que valeu a Pedro Rosa Mendes o saneamento da mesma RTP.
Ou porque o «Público» - numa altura em que a SONAE estabelecia negócios com Luanda - suscitou a saída da jornalista Maria João Oliveira, que pusera em causa a personalidade do ministro.
Mas, sobretudo, entende-se o desespero de Relvas quando, acossado pelas vicissitudes relacionadas com a sua suposta literatura na Lusófona, declarou só estar disponível para largar o Governo depois de concluído este dossiê da privatização da televisão pública.
Ou os jantares da semana transata com Zeinal Bava e com Joaquim Oliveira, que tanta influência têm no mercado televisivo atual.
E, finalmente, entende-se a estratégia, que levou a amiga de Relvas, Judite de Sousa, a oportunamente entrevistar António Borges em mais uma demonstração das «qualidades» de tal conselheiro principescamente pago pelos contribuintes e a prestar-se a servir de lebre para uma estratégia atirada para a praça pública para testar a sua aceitabilidade.
Mas, pese embora a dificuldade de Relvas levar por diante tal projeto que, a concretizar-se, seria terrível para a liberdade de expressão e para a própria independência do país, importa confrontar quem votou neste Governo com as suas responsabilidades: foi para entregar a um governo estrangeiro de contestáveis credenciais democráticas, que ofereceram a maioria a tal gente?
Sendo tradicionalmente nacionalistas, o povo de direita sentir-se-á confortado com a forma como Passos & Cª está a entregar os mais elementares requisitos de independência a novos poderes colonialistas de sinal inverso aos existentes antes de 1974?
E como se sentirá a tal respeito o eleitorado do CDS/PP?
Não será difícil perspetivar que toda esta cortina de fumo em torno da RTP pode constituir nova demonstração do que sucede habitualmente ao aprendiz de feiticeiro a contas com as consequências indesejáveis da sua imprudência e surja assim a crise política a somar-se às crises social e económica já instaladas.
Em si essa possibilidade será mais que desejável, porque vistas as contas deste Governo e a forma como lhe está a correr a execução orçamental, será essa mesma crise política e as subsequentes soluções de Governo a virem, provavelmente, propiciar alternativas mais adequadas para as duas outras.
Possa a esquerda e, sobretudo, o Partido Socialista estar então à altura das suas responsabilidades...
Sem comentários:
Enviar um comentário