Passado o feriado o dia de hoje trouxe os comentadores dos diversos jornais a abordarem a inopinada novidade trazida por Passos Coelho no discurso do Pontal: a inflexão da recessão durante o ano de 2013!
As primeiras reações, ainda a quente, já mostravam a estupefação que nem os mais entusiasmados defensores do Governo conseguiam iludir. Mas anunciar amanhãs que cantam, quando toda a realidade à sua volta os conjetura possíveis apenas no caso de se repetirem uns quantos milagres, não lembra aos mais ousados dos zandingas de serviço.
No Expresso houve quem (João Lemos Esteves) ressaltasse a forma desleixada como a intervenção foi preparada: Passos Coelho foi elencando as suas ideias, sucessivamente, conforme se ia lembrando: raramente se notou uma articulação de ideias ou um raciocínio lógico estruturado.
Levado pelo seu entusiasmo e escasso tato tivemos o primeiro-ministro a revelar o que lhe vai na alma, e que tão pouco politicamente correto se afigura por esta altura. Por exemplo querer tomar os seus interlocutores por menos inteligentes do que o são na realidade: Passos Coelho quer continuar a explorar politicamente a saga do “regabofe” socrático, apagando por motivos estritamente partidários os cinco anos de crise internacional e a crise dos juros da dívida e da moeda única, como se os gastos de Sócrates tivessem conseguido a proeza de abalar todo o euro. Esta opção serve para nos fazer a todos de parvos, mas colhe algum sucesso entre comentadores encartados e povo avulso.
Só discordo da Ana Sá Lopes, do i, no sentido em que serão cada vez menos quantos compram a mistificação de ter sido o anterior primeiro-ministro a arrastar a Europa, desde a Islândia à Grécia, passando pela Irlanda ou pela Itália para a crise em que os especuladores financeiros a mergulharam desde Setembro de 2008.
Mas, detenhamo-nos então na absurda promessa de Passos Coelho e como ela foi vista nos jornais.
No Diário de Notícias, Viriato Soromenho Marques ironiza com a vocação teológica do primeiro-ministro: A promessa do primeiro-ministro, na Festa do Pontal, anunciando para 2013 a "inversão da atividade económica em Portugal" viola as regras do jogo da aposta média, para entrar no equívoco terreno da fé. Com os indicadores económicos nacionais a declinaram precipitadamente, a Espanha aflita aqui ao lado, e o clímax da tragédia grega anunciado para breve, a promessa do PM está mais próxima do paradoxo teológico de Tertuliano ("creio porque é absurdo") do que da boa navegação que se exige às políticas públicas. Do PM apenas queremos que contribua para nos proteger a propriedade e o corpo. Da salvação da alma cada um tratará da melhor maneira.
Na mesma linha Helena Cristina Coelho, do Diário Económico, normalmente muito reverenciadora do político em causa não se exime igualmente, mesmo que com diplomacia, a denunciar a sua vigarice intelectual: Passos Coelho limitou-se a dizer aquilo que todos gostaríamos, não de ouvir, mas de ver: a crise pelas costas. Mas todos sabemos que ainda existe uma linha que separa aquilo que se deseja daquilo que é provável: chama-se realidade e bom senso.
E, no mesmo jornal, Pedro Carvalho já congemina como será o discurso do Verão de 2013: Mais um ano com o desemprego a subir e a economia a afundar, o PSD nem vai arriscar fazer a festa no Aquashow. O comício de ‘rentrée' no Pontal passará a ser feito por conference call. Se é que ele ainda se consiga manter na liderança do (des)Governo por mais um ano!
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