segunda-feira, 30 de julho de 2012

O declínio da Europa


Num dia em que faltaram notícias ou opiniões de interesse, vale a pena olhar para outubro do ano transato, quando o jornalista Fernando Sobral publicou o artigo «A Revolução está nas Ruas?» no «Jornal de Negócios. Texto que permanece quase inteiramente atual na sua pertinência, ao abordar a menoridade para que caminha a Europa, quando potências emergentes ganham espaço nas rotas do comércio mundial:
É sobretudo do declínio da Europa que se fala. De pouco crescimento e de cada vez mais desemprego. De cada vez menos Estado Social. Do cada vez maior envelhecimento da população europeia. Da falta de um modelo para o Velho Continente, cada vez mais encolhido entre os países emergentes e uns Estados Unidos, que se preparam para regressar como potência política, económica, militar e cultural. O fim da época em que Hollywood se refugiou na Banda Desenhada está próxima. E a Europa acomoda-se a viver mais pobre, mesmo que a classe política não consiga explicar isso aos seus cidadãos.
De facto, de Durão Barroso a Passos Coelho, os políticos europeus não têm uma única ideia consistente para infletirem o rumo do continente. Incapazes de se abstraírem das estafadas receitas neoliberais, vão reincidindo nos erros sem compreenderem como os verem na origem dos resultados desastrosos verificados em todos os indicadores macroeconómicos disponíveis.


Parte do problema é essa: como explicar aos votantes que a sua vida vai continuar a degradar-se? Em Londres não é preciso irmos muito longe para percebermos esse lento deslizar: no Marks & Spencer  há cada vez mais refeições rápidas e baratas, para tudo e para todos. Há comida italiana, indiana, chinesa, japonesa. As  pessoas, antes de entrarem no comboio da estação de Victoria, enchem o saco. Muitos não conseguem viver no centro porque é caro. Muitas profissões, de polícias a enfermeiros, buscam sobretudo lugar compatível nos arredores para não terem de pagar os caros transportes. As lojas estão quase sempre em saldo. Mas também aí se percebe que a época da roupa barata e razoável, que vinha da China e outros países da Ásia, está a terminar. O que é mais barato é simplesmente mau. Um novo modelo económico e de vida está a nascer das cinzas da primeira fase da globalização. E a Europa ainda não parece ter entendido.
Como de costume nos textos de Fernando Sobral o diagnóstico é correto, mas falta o grão de asa de dele partir para o anúncio do que se segue. E aqui há duas possibilidades diametralmente opostas: ou a instituição de uma ditadura financeira comandada pelos fortalecidos oligopólios para tal representados por políticos oportunistas e sem escrúpulos. Ou uma revolução democrática, que devolva ao Estado o papel de regulação de que nunca se deveria ter demitido.
Não é preciso aqui anunciar para qual delas vai a nossa preferência...

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