O blogue tem vivido muito de textos alheios lidos em jornais e cuja divulgação poderá ajudar a entender melhor as tendências por que se move a realidade.
Iniciamos, agora, idêntico propósito com livros que, de algum modo, possibilitem o aprofundamento desse objetivo.
Como sempre deveremos ter no conhecimento a ferramenta indispensável para melhor nos tornarmos protagonistas de uma época em que convém aos poderosos, que nos limitemos ao papel de espectadores.
O livro escolhido para iniciar este propósito foi escrito há cinco anos por Tim Butcher, então correspondente do «Daily Telegraph» em África, e teve por tema a odisseia a que meteu ombros ao imitar uma das mais famosas expedições britânicas do último quartel do século XIX: a de Stanley por um trajeto entre as margens do Lago Tanganica e a foz do rio Congo. O título: «Blood River».
Mais do que uma aventura, a proposta de Butcher permitiu-lhe descrever as realidades sociais, políticas e económicas explicativas do tremendo caos em que se converteu tal região.
E, muito embora, a realidade africana nos pareça ainda mais distante neste tempo de obsessões com a crise das dívidas soberanas europeias, a essência globalizada do mundo de hoje não a dissocia, mesmo que colateralmente, de quanto vamos vivendo.
Por outro lado o relato de Tim Butcher também encontra eco em experiências pessoais, quando me vi preso numa enxovia de Douala, na Costa do Marfim, por um caso de recusa ingénua de alinhamento com os esquemas de corrupção locais, ou quando me vi obrigado a fugir do mercado ao ar livre de Ponta Negra, no Congo Brazaville, para evitar o assalto de um grupo disposto a cercar-me conjuntamente com o outro colega branco, que aí me acompanhava na compra de um sobressalente necessário ao navio aonde então era oficial.
Dois momentos, que poderiam ser acompanhados de outros igualmente emocionantes, que deram para perceber quanto é fácil em África sentirmo-nos completamente desprotegidos face a um ambiente em que a regra principal é não existir qualquer regra em que confiar.
Coragem é um atributo, que não falta ao jornalista inglês, quando decide iniciar a viagem: os primeiros exploradores que se aventuraram pelo Congo, no século XIX, levaram com eles pequenos exércitos, equipados com as mais recentes armas de fogo europeias e os melhores medicamentos para enfrentarem o ébola, a lepra, a varíola e outras doenças endémicas mortais. No meu caso, a única proteção que levava comigo era um canivete e uma embalagem de toalhetes de bebé. (pág. 13)´
Começa em Kalembe, no leste do Congo, cidade portuária nas margens do Tanganica, que ele descreve como destroço doentio situado no país mais assustador e mais atrasado à face da Terra. A mais de três mil quilómetros de distância da costa atlântica aonde conta dar por finalizada a sua experiência.
Sem comentários:
Enviar um comentário