Neste fim de mandato de Obama um dos temas mais discutidos atualmente no outro lado do Atlântico é aquele que esteve no fulcro do movimento Occupy Wall Street: a explosão das desigualdades!
Na sua mais recente obra dedicada a esse cataclismo social e económico Joseph Stiglitz constata com amargura o aumento do muro de separação entre os ricos e os pobres: O que se passa nos Estados Unidos é muito simples: os ricos enriquecem (…) os pobres empobrecem e aumentam em número, esvaziando-se a classe média.
Trata-se de uma realidade a que a recente listagem dos mais ricos norte-americanos na revista Forbes deu expressão com a evidência deles terem aumentado o seu património em 13% em apenas um ano! Nada que se compare com tudo quanto sucedeu desde a Grande Depressão até agora! Quer se trate de diferenças salariais ou de rendimentos do capital, as desigualdades agravam-se mais do que em qualquer outro país industrializado.
Stiglitz apresenta muitos exemplos demonstrativos das suas teses, mas basta retermos dois: de há trinta anos para cá, os salários só aumentaram 15% para os 90% menor remunerados, enquanto para os salários de topo (1%) cresceram 150%. E, se ainda restringirmos o filtro ao 0,1% de topo esse aumento ultrapassa os 300%.
O outro exemplo que diz tudo em si mesmo mostra que 1/5 da população detém cerca de 85% da fortuna do país.
Para o Nobel da Economia e ex-diretor do Banco Mundial, o veredito é sem apelo: o capitalismo tornou-se ineficaz, instável e injusto.
Mais límpido e implacável do que nunca, Joseph Stiglitz enuncia as causas do enorme fracasso desta forma de capitalismo cada vez mais disfuncional.
A desigualdade não nasceu das forças abstratas do mercado, mas da sua implementação pelas forças políticas: mundialização mal gerida orientada quase sempre para a satisfação dos interesses particulares; esmagamento dos sindicatos; política estatal em favor dos ricos; controle do mercado das ideias e dos meios de comunicação por parte dos mais ricos e colocados inteiramente ao seu serviço.
Stiglitz oferece um quadro eloquente da vasta batalha das ideias empreendida pela direita americana: os ricos tentam enquadrar o debate de uma forma que sirva os seus interesses, porque compreendem que, numa democracia não podem impor pura e simplesmente a sua vontade aos outros (…) Nem sempre ganham.
Mas, quando estamos longe de uma batalha com armas iguais para convencer que o que é bom para 1% da população não é bom para todos - redução de impostos, do défice e da dimensão do Estado - subsiste uma boa notícia: a política económica pode inverter essa dinâmica o que Stiglitz se esforça por demonstrar através de um conjunto de trinta propostas destinadas a devolver à América o sentido da igualdade de oportunidades e a impedir a cisão cada vez maior entre as diferentes classes. Se é que ainda se vai a tempo!
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