quarta-feira, 5 de setembro de 2012

POLÍTICA: Ingenuidade ou despudorada mentira?


A personalidade de Pedro Passos Coelho pode suscitar muitas perplexidades por muito primário que se revele a expressão do seu pensamento. Para Fernando Sobral, no Negócios, ele mostra ingenuidade ao ver-se privado do seu guru, Miguel Relvas, a quem a morte ministerial já ceifou sem que alguém se dignasse a disso o avisar.
Agora que se vê privado desse inspirador, Passos Coelho vira-se para os livros de auto-ajuda e quer à viva força acreditar na transformação do verbo em realidade se o repetir até à exaustão. Vejamos então as palavras de Sobral. Pedro Passos Coelho descobriu um novo caminho para influenciar as pessoas. Para isso ajuda-se a si próprio.
Fala para acreditar no que diz, pensando que assim está a ajudar os portugueses. Parece dizer: acreditemos na sagrada importância da austeridade e o futuro concretizar-se-á.
Ou seja, a austeridade, na falta de estratégia política e de economia real, tornou-se o princípio, o meio e o fim deste Governo. 
Já Baptista Bastos é menos complacente e considera-o um despudorado mentiroso :  o descaramento com que o primeiro-ministro mente já deixou de provocar assombro: suscita repugnância. Para limitar as vias de acesso de outros ao poder, ele é capaz de nos dizer que tudo caminha pelo melhor. A impostura fere muitos milhares de portugueses, e indigna-os porque os humilha e castiga.
Agora que a troika se prepara para deixar o Governo irremediavelmente sozinho na cadeira dos réus quanto à responsabilidade pelo fracasso de tudo quanto prometeu e não cumpriu, Nuno Serra lembra, no blogue «Ladrões de Bicicletas», que esta gente não é vítima de um elefante que se instalou, por vontade própria, no meio da sala. Nem sequer se pode queixar que o paquiderme entrou por uma porta que foi deixada inadvertidamente aberta. Esta gente (troika incluída) fez uma coisa muito mais simples: empurrou o elefante para o meio da sala.
E Tomás Vasques, no «i», confronta Francisco Louçã com a partilha dessa responsabilidade:  Francisco Louçã, disse: “o Governo de Passos Coelho e Paulo Portas é o mais perigoso que temos na democracia portuguesa”. É interessante ouvir tais palavras do ainda “porta-voz” do Bloco de Esquerda, partido que votou ao lado do PSD e do CDS-PP para derrubar o anterior governo. Será uma autocrítica em fim de mandato?
Continua a ser a doença infantil, que o próprio Lenine denunciou, essa tendência de certa esquerda para se firmar no terreno dos princípios invioláveis, esquecendo-se de pensar estrategicamente a curto e a longo prazo sobre as consequências das suas decisões. E poucos duvidarão ainda que, se há quinze meses, os portugueses tivessem rejeitado a demagogia fraudulenta da direita e continuassem a apostar no Partido Socialista a realidade atual seria muito diferente: difícil, não duvidamos, mas menos nociva para tantos, que padecem hoje os efeitos das suas más escolhas enquanto eleitores.

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