Diz o provérbio que “elogio em boca própria é vitupério”. É o que se pode dizer do discurso que ontem passos coelho proferiu durante o debate do estado da Nação. Ciente de colher uma vasta maioria de opiniões negativas junto dos portugueses, ele achou por bem assegurar o louvor de si mesmo, apresentando-se como uma espécie de líder revolucionário que garante, a vinte anos de distância, uma “sociedade do pleno emprego” e uma “economia vibrante, dinâmica e concorrencial”.
Mas, mais do que a patética autopromoção, passos mais pareceu um daqueles doidos varridos para quem, à solicitação do nome, diz-se chamar-se Napoleão Bonaparte. Porque, no íntimo, até já se julgará presumivelmente com um lugar na História e uma urna no Panteão. Por isso mesmo têm plena razão os que o dizem muito perigoso: porque, ainda por cima, passos parece mesmo acreditar naquilo que diz.
Mas diz o «Expresso» que “o governo quis fazer deste primeiro debate do estado da nação depois da troika um marco histórico. O PS deixou.” Porque António José Seguro rivalizou com passos coelho no comportamento patético com que se comportou no debate. Porque se julgou conseguir um bom efeito retórico com a fórmula do governo que “destruiu três gerações” (comprova-se que a imaginação dos spin doctors do Largo do Rato não dá para mais!) nem sequer teve tempo para dar substância às propostas concretas, que trazia para querer demonstrar não ser, ideologicamente, mais do que um balão cheio de ar. Um discurso que poucos aplausos suscitou e mereceu risos de mofa até da própria bancada.
Porque, como sempre, a sanha anti socrática com que andou a ignorar a herança positiva dos governos entre 2005 e 2011 virou-se contra si e acabou humilhado pelo próprio passos coelho, que se terá deleitado em dar-lhe razão pelo que vem dizendo desde que António Costa se disponibilizou para fazer melhor! Porque, por muito que se queira dissociar de José Sócrates, tem ignorado quanto pertence ao património do Partido Socialista o quanto de bom e de menos bom foi implementado pelo antigo primeiro-ministro e, como tal, deveria ter sido sempre defendido.
Quem assistiu ao debate viu uma Direita a reassumir a iniciativa e a demonstrar força, enquanto Seguro deu do maior partido da oposição uma imagem lamentável de incoerência e de fraqueza. Por isso mesmo confirmou-se a urgência em mudar de liderança e dar por concluída uma tão incompetente forma de dar esperança ao desagrado dos portugueses.
Se passos coelho enquanto louco varrido é perigoso, Seguro não o deixa de ser menos por quanto é hoje um dos principais problemas, que se coloca à afirmação de uma verdadeira alternativa para o estado atual da Nação, que em nada condiz com os diagnósticos e as perspetivas assumidas por ambos.
Sem comentários:
Enviar um comentário