Para os utentes do Serviço Nacional de Saúde - e sobretudo para quantos de entre eles puderam sentir na pele o que tem sido a degradação da sua qualidade ao longo destes últimos três anos - interessa saber qual será a política proposta pelo Partido Socialista para quando governar e tiver que iniciar a reconstrução do quanto foi entretanto destruído.
Até para ser fiel à sua história e ao mérito da equipa que com António Arnaud levou por diante esse belo projeto de melhoria da qualidade de vida dos portugueses, o Partido Socialista está obrigado a toma medidas concretas para o voltar a tornar efetivo.
Um governo socialista não poderá tolerar que pessoas morram por falta de resposta dos hospitais públicos e das suas cada vez mais desesperantes listas de espera. Não deverá aceitar que pessoas doentes não se tratem por não terem dinheiro suficiente para as taxas «moderadoras», para os medicamentos ou sequer para conseguirem deslocar-se para as suas consultas.
Se o novo governo terá muito que trabalhar para reerguer o país dos escombros em que se transformou, não poderá deixar de colocar nas suas prioridades o setor da Saúde acabando com a sangria de médicos e, sobretudo, de enfermeiros, empurrados para a emigração por não encontrarem aqui resposta profissional para os seus projetos de vida.
Foi com essa preocupação que, no recente debate em Belverde, entre apoiantes de António José Seguro e de António Costa, a questão do hospital do Seixal veio à baila.
Recorde-se que a ideia de dotar este concelho de um novo Hospital, capaz de responder ao cada vez maior défice de eficiência do Garcia da Orta, em Almada, já subdimensionado para as necessidades a que tem de dar resposta, proveio dos militantes socialistas do concelho, que vieram depois a serem apoiados pelos comunistas, igualmente conquistados para a urgência de tal projeto.
Se ele esteve em vias de avançar durante o segundo governo de José Sócrates, e só foi travado pelo seu fim prematuro, nunca passou pela cabeça dos socialistas seixalenses, que ele viesse a ser secundarizado pela Direção atual do Partido. Foi, pois, para satisfazer essa dúvida, que Susana Branco quis ouvir Álvaro Beleza.
Foi notório o embaraço do interrogado com esta questão. Muito embora não tenha dito que era contra o Hospital do Seixal, advogou a ideia de um grande hospital com todas as valências adequadas para o centro da Península de Setúbal, que ficámos propriamente sem saber onde fica, mas não será decerto no Seixal.
Ora ainda está por demonstrar a bondade das poupanças por efeito de escala de um grande hospital em relação a vários, geograficamente distribuídos, e capazes de corresponderem a situações de resposta imediata, que o tempo de deslocação para aquele torna mais problemático.
Imaginemos, por exemplo, que exista uma situação de catástrofe para onde haverá a necessidade de corresponder ao tratamento imediato de umas centenas de pessoas. Qual a solução mais eficaz? Convergir todas as ambulâncias para um mesmo local com risco de engarrafamento ou contar com a sua rápida distribuição pelas unidades de Almada, Seixal, Barreiro e Setúbal?
Muto embora médico de formação, Álvaro Beleza parece tomado sobretudo por preocupações meramente economicistas, a exemplo do que acontecera há um par de anos, quando causou grandes problemas à imagem do Partido ao invocar a necessidade de acabar com a ADSE sem lhe garantir a substituição por um bem mais qualificado Serviço Nacional de Saúde.
Embora prejudicado pelos provocadores, que puseram em causa os objetivos do debate, o que se constatou em Belverde foi uma divergência óbvia entre as candidaturas de António José Seguro e António Costa: também na Saúde o primeiro parece apostado na lógica austeritária, mesmo que mais moderada no ritmo, enquanto o segundo conta com apoiantes que, no caso do Hospital do Seixal, não abdicarão de uma bandeira há muito hasteada e tão querida aos que vivem neste concelho e nos adjacentes...
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