Os apoiantes de António José Seguro têm procurado criar confusão em quem os ouve ao acusarem António Costa de não ter um programa de governação para o país. Trata-se de um tiro com direito a ricochete já que, sem ninguém lhe pedir isso, o ainda secretário-geral apostou na apresentação de um programa com oito dezenas de medidas durante a campanha eleitoral para as europeias, e viu-o desprezado pelos quase 90% de eleitores que, entre os que se abstiveram e os que votaram noutras forças políticas, o não sufragaram.
Mais avisado, António Costa tem defendido que, a esta distância das legislativas - mesmo que venham a ser antecipadas para o primeiro semestre de 2015 - é extemporâneo avançar para tal programa, porque "este é o momento de apresentar uma estratégia política, linhas de orientação geral e a visão que tenho para o país.”
Há que demonstrar aos eleitores que foi a soma do rigor orçamental à austeridade no conjunto da economia, que nos conduziu à atual dimensão da crise. Os factos demonstraram que é inviável garantir o crescimento económico exclusivamente com base nas exportações.
Existe na sociedade portuguesa um consenso cada vez mais alargado quanto à necessidade de reduzir a austeridade interna para relançar a economia.
Os dados recentemente divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, inquirindo os empresários sobre o motivo pelo qual o nível de investimento é tão baixo, dão uma resposta muito clara. Hoje, mais do que as restrições do acesso ao crédito e ao financiamento, são as baixas expectativas da procura que estão a limitar a capacidade de investimento. Se não têm esperança em encontrarem compradores para os seus produtos, os empresários não estarão obviamente empenhados em aumentar a sua produção. O que terá inevitavelmente reflexos negativos no índice do desemprego.
Constata António Costa: “E se esse investimento não é retomado, nós não conseguiremos um relançamento económico que seja saudável e sustentável. Para isso, temos de ter um aumento da procura interna para voltarmos a ter níveis de crescimento a curto prazo.”
Mas, para além desse crescimento sustentado do consumo interno - e o que se passa atualmente no Grupo Espírito Santo esclarece, para quem ainda tinha dúvidas, que quem vivera acima das suas possibilidades não tinham sido os portugueses, mas os seus banqueiros - António Costa aponta para outras áreas estratégicas de investimento a incluir na agenda para a década: a modernização do tecido empresarial da administração pública, a cultura, a ciência, a educação e o reforço da coesão social.
Será isso que estará em discussão na Convenção deste sábado em Aveiro. Os contributos, que aí serão recolhidos, conjuntamente com todos quantos vêm sendo acumulados nos últimos anos desde os Estados Gerais até ao Novo Rumo, serão fundamentais para que o novo governo socialista, a ser empossado no próximo ano, volte a retomar o objetivo da modernização e da resolução dos problemas estruturais, que afetam a economia do país.
Depois de quatro anos de destruição contínua de tudo quanto de bom havia sido lançado pelos governos de António Guterres e de José Sócrates, será o tempo certo para o país voltar a conhecer uma governação competente, capaz de superar todos os bloqueios impeditivos de Portugal equiparar-se em desempenho económico, financeiro e social aos mais avançados países da Europa.
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