sexta-feira, 11 de julho de 2014

Os fanicos da «mão invisível»

Nos cinquenta e muitos anos de vida já tive a oportunidade de presenciar acontecimentos históricos, que anteriormente me pareciam improváveis.
O 25 de abril foi o mais exaltante deles todos e que correspondeu de facto ao tal dia inteiro e limpo, tão diferente dos céus plúmbeos de que se coloriam os do fascismo e da sua nefanda Guerra Colonial.
Mas depois como poderia adivinhar a implosão da URSS, quando palmilhava a tranquilidade das ruas de Odessa nos anos oitenta? Ou como  poderia supor que, anos depois, Mandela seria presidente sul-africano, quando olhava na direção da Antártida a partir do topo da Table Mountain e procurava em vão a proscrita Robben Island pelo meio da neblina? Ou como poderia crer que as Twin Towers, que vi em construção aquando da primeira estadia em Nova Iorque, acabariam tão tragicamente num dia de setembro de 2001?
Ano a ano, década a década a realidade consegue surpreender-nos, umas vezes indo ao encontro das utópicas aspirações, outras dando razão a receios, que nem nos atreveríamos a verbalizar.
Uma das expectativas alimentadas desde a adolescência, é a de viver o suficiente para ver o capitalismo totalmente erradicado, tendo em conta a sua responsabilidade na criação de injustiças e desigualdades.
De tempos a tempos esse anseio parece aproximar-se velozmente, tão de pés de barro parece feita a sua substância. Mas, por exemplo, a falência da Lehman Brothers não significou o almejado dobre de finados para o sistema financeiro tal qual funcionava na City ou em Wall Street, permitindo-lhe até regenerar-se para estratégias de ainda mais difícil regulação e controle.
Por cá o BES e os negócios da família Espírito Santo estão na ordem do dia ganhando até destaque na imprensa estrangeira. Com efeitos devastadores em tantas empresas, de grande e pequena dimensão, que ali apostaram investimentos de risco muito mais elevado do que imaginavam.
Por estes dias haverá muito menos gente a elogiar a tal «mão invisível», que tanto lustro costumava dar ao sistema. Vamos a ver de quantos fanicos ainda precisa para morrer de vez...


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