quarta-feira, 16 de julho de 2014

Enquanto Seguro não tem pressa, as ruínas vão crescendo!

Uma das estranhezas destes últimos meses tem sido a da diminuição dos atos públicos de protesto contra o governo de passos coelho. Os ministros, incluindo o primeiro de entre eles, têm conseguido comparecer em conferências e inaugurações sem serem “grandolados” ou, no mínimo, assobiados.
É claro que a CGTP tem mantido a regularidade das suas manifestações e algumas classes, como as dos médicos ou dos advogados, também vão dando voz ao desagrado com este estado das coisas. Mas o protesto está cingido a uma dimensão pouco expressiva apesar do descontentamento de quase todos quanto se expressam à nossa volta...
Ademais, todas as semanas vão surgindo outras razões de peso para que a indignação protestatória se expresse de forma bem mais audível. Só para dar dois exemplos de situações de extrema gravidade para as quais o governo reage com a sua habitual indiferença, tivemos por estes dias a notícia de cerca de três mil trabalhadores a verem indeferidos os apoios solicitados ao Fundo de Garantia Salarial, que fora criado para pagar as dívidas aos funcionários quando as empresas têm dificuldades ou fecham portas, apesar de já contarem com planos de recuperação aprovados. Ou a de grávidas a chegarem aos serviços de urgência dos hospitais com fome. No Hospital Amadora-Sintra até se noticiaram casos de bebés que não recebem alta porque as famílias não têm condições para os acolher.
Se isto não são motivos para que esta fase de aparente abrandamento dos protestos cesse e dê o ensejo a um outono muito quente contra o governo - tão só esteja resolvida a questão da liderança do Partido Socialista -, não se imaginam que outros mais serão necessários!
Soma-se-lhes o reverso dos anúncios de sucessos, com que, na primavera, o governo julgou engalanar as ruínas sobre que assenta. Afinal a montanha pariu um rato e, quer nos indicadores sobre a produção industrial, quer sobre as exportações, os resultados mostraram-se agora confrangedores para esse propalado discurso do milagre económico em curso.
Segundo o Eurostat, de abril para maio, constatou-se um decréscimo de 23,6% da produção industrial, tornando Portugal no país da União Europeia onde essa quebra foi maior. E, nas exportações, a paragem da refinaria de Sines para manutenção já serviu de argumento para o primeiro trimestre mas, em definitivo, elas não dão o salto tão esperado para este trimestre.
No seu artigo desta semana no «Público», Correia de Campos explica muito bem o porquê: “O Governo escudava-se no crescimento das exportações, esperando-o imparável. Pois bem, tal crescimento assenta em escasso número de grandes operadores, dentre eles a Galp, que aproveitou, e bem, os contratos de longo prazo que detinha com fornecedores para revender combustíveis ao Japão, de súbito forçado a construir uma mão-cheia de centrais térmicas após o desastre de Fukushima. Acresceu a janela de oportunidade de vender combustível refinado para os EUA e outros, aberta ainda no Governo Sócrates com a ampliação da refinaria de Sines, dado o progressivo encerramento de refinarias na Europa por razões ambientais e de baixa rentabilidade. Bastou que a refinaria parasse para manutenção para que as exportações claudicassem. Respondeu o Governo que tal só afetaria os três primeiros meses deste ano. Decorridos cinco meses verifica-se que o Governo errara e mentia: o défice  comercial aumentou 21,6% nos primeiros cinco meses face a meses homólogos do ano anterior. Não só as importações cresceram 2,3%, como as exportações baixaram 0,9%. Infelizmente para todos nós, mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo!”
Para que passos coelho sinta a tempestade perfeita a formar-se por cima das suas expectativas temos a novela do BES, já estendida à PT e ao grupo Amorim. A ideia de um Estado reduzido ao mínimo, confiando nos banqueiros e nos industriais para que se mostrassem empreendedores e pudessem criar novos empregos, vai ruindo com fragor.
O neoliberalismo herdado de vítor gaspar e prosseguido por marilú albuquerque com o mesmo fanatismo está a meter água por todos os seus bordos. É por isso mesmo, que importa ver consagrada a nova liderança no Partido Socialista para que os previsíveis protestos outonais tenham expressão numa alternativa definitivamente com pressa para mudar a vida dos portugueses...


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