segunda-feira, 14 de julho de 2014

A chave da mudança

Neste fim-de-semana assistimos a mais um capítulo do processo de autodestruição do Bloco de Esquerda com a saída da tendência ligada a Ana Drago. O episódio deve motivar a reflexão em quem anseia pela mudança das políticas implementadas nestes três anos e encara a necessidade de uma aliança alargada a essa  e a outras forças políticas como única forma de impedir o próximo governo de  continuar a apresentar-se como o «bom aluno» dos ditames austeritários dos senhores que mandam no Eurogrupo.
Não é que, ao contrário de Alfredo Barroso que viu nisso razão para se dissociar dos que apoiam António Costa, seja prudente, nem sequer necessário, que o futuro secretário-geral do Partido se comprometa nesse sentido. Mas, muito menos, se pode concordar com Francisco Assis que, como apoiante de António José Seguro, considera como única aliança possível a que se possa estabelecer à direita.
Nesse sentido vale a pena ter em conta o artigo intitulado “A chave", assinado hoje por Rui Tavares na sua habitual coluna de opinião no «Público».
Por muito que tenha tido contornos de oportunismo o seu afastamento do Bloco de Esquerda depois de, nas suas listas, se ter feito eleger deputado europeu há quatro anos, e de nos lembrarmos inevitavelmente do quixotismo de Carmelinda Pereira, quando o vimos criar mais um partido para promover a união das várias esquerdas, o que Rui Tavares diz não deixa de fazer algum sentido, quando faz o diagnóstico do que se passa desse lado do leque partidário: o drama da esquerda partidária portuguesa é este: há uma metade que só pensa em governar; a outra metade só pensa em não governar. A esquerda partidária que só pensa em governar acha que, para isso, tem de ser centrista.  A esquerda que só pensa em não governar acha que, para isso, tem de ser extremista.
Foi esse um dos mais graves problemas por que passou o segundo governo de José Sócrates: tivesse contado com parceiros honestos e leais à sua esquerda e teria sido possível impedir a direita de aceder ao Processo Reacionário em Curso, que já destruiu uma boa parte das conquistas sociais adquiridas depois da Revolução de Abril.
Nesse sentido tem sido evidente a predileção dessa esquerda, tida como estando situada à esquerda do PS, em fazer deste o seu principal inimigo, aliando-se à Direita sempre que vê possibilidades em derrubá-lo. O momento da votação contra o PEC4 figurará duradouramente na memória coletiva como paradigmático do cumprimento da tese subscrita intimamente por muitos comunistas e bloquistas para quem, com o PS no governo, quanto pior melhor.
Como não dar, pois, razão a Rui Tavares quando  constata que “a esquerda partidária portuguesa, tradicionalmente estatista, parece sempre comprazer-se no paradoxo de entregar o Estado às mãos da direita.”?
E, no entanto, os portugueses que execram esta Direita, estão-se totalmente borrifando para quem possa competir num suposto campeonato para aferir quem é mais anticapitalista. Diz Tavares que a maior parte dos eleitores de esquerda - que constituem a maioria sociológica do país - querem que “as desigualdades sejam combatidas e a pobreza erradicada, onde haja um acesso universal às provisões públicas, e onde uma economia mista e diversificada possa dar hipóteses justas de progresso social e pessoal aos portugueses.
Porque a realidade é dinâmica e desmente frequentemente as aparências em que assentava, é possível que algo comece a mudar nessa esquerda, subitamente confrontada com as questões que mais importam: porquê, para quê e para quem governar.
Do que se vai constatando nas primárias do PS há um candidato capaz de responder assertivamente a tais questões e de chamar a si as franjas à esquerda e à direita, que querem um país diferente do que é sonhado por passos coelho, por maria luís Albuquerque! E ele é António Costa que já tem provas dadas como aglutinador de apoios alargados à área socialista para conseguir levar por diante projetos transformadores da nossa sociedade e da nossa economia.
Por isso mesmo, e para que as coisas deixem de continuar a ser como são, é imprescindível a vitória de António Costa nas primárias e nas subsequentes legislativas!


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