sexta-feira, 4 de julho de 2014

A realidade muda, mas há quem o ignore!

Em 1633, quando Galileu proferiu a sua célebre máxima E pur si muove!,  não imaginaria que quase quatro séculos passados, essa evidência ainda fosse de tão difícil compreensão para alguns dos que então viveriam.
Esse parece o caso do ainda secretário-geral do PS, que diaboliza a governação de José Sócrates entendendo-a da mesma forma como a direita no seu todo a procura descredibilizar, e olhando para o futuro como se ele fosse algo de estático, exatamente igual nas suas condicionantes e oportunidades às atualmente percetíveis.
É essa outra das grandes diferenças que se podem estabelecer entre as propostas de António José Seguro e de António Costa para a estratégia seguida pelo Partido Socialista para o futuro imediato.
Como não consegue ver mais do que a sua miopia ideológica lhe permite, Seguro propõe aquilo que outros já têm defendido há mais tempo - a descida do IVA da restauração, a subida do salário mínimo e a reestruturação da dívida.
Sempre a reboque das outras oposições, Seguro (ou ele por interpostos apoiantes) ora lhes critica as propostas, ora as abraça, quando as vê adotadas como aspiração de franjas significativas de portugueses. Por isso ouvimo-lo e é sempre mais do mesmo, sem nada de novo que mereça a nossa atenção.
Já António Costa aposta na mudança dinâmica que as relações de forças vão conhecendo a nível europeu e aponta para uma agenda de transformação da estrutura produtiva do país nos próximos dez anos. Nesse sentido retoma as expetativas de José Sócrates quando, há quatro anos, andava a pressionar seriamente a chanceler alemã para o acompanhar nas suas propostas de resposta à crise aberta pela falência do Lehman Brothers e o estava a conseguir, apesar dela ter a influenciá-la no sentido contrário, o tenebroso ministro Schauble.
Sócrates apostou fortemente numa viragem europeia, que rejeitasse a austeridade e a dessolidarização entre países do Norte e do Sul do Continente como forma de manter vivo o projeto europeu, e o seu esforço foi “premiado” com uma derrota injusta. De facto os neoliberais, que tomaram de assalto as instituições europeias cuidaram de salvaguardam a enorme exposição ao risco de crédito mal parado dos bancos alemães e franceses e menosprezaram os princípios fundamentais por que elas se guiavam até então.
Hoje pode concluir-se que Sócrates teve razão antes do seu tempo: só agora é que muitos economistas e responsáveis de instituições financeiras e políticas começam a reconhecer o fracasso da estratégia então gizada. A aposta no crescimento económico revela-se um imperativo e só quem nela verdadeiramente acredita está em condições de a concretizar internamente.
Depois de terem sido os cabeças de turco que serviram entusiasticamente a falhada estratégia austeritária, nem  passos coelho, nem portas estão em condições de cumprirem outro papel político, que não seja o de serem totalmente ostracizados como justo castigo para todo o mal semeado na sociedade portuguesa.
Por seu lado Seguro, que não tem sido senão a outra face da mesma moeda - a começar pela aceitação acrítica de uns e outros do cumprimento do Tratado Orçamental e do diagnóstico das causas que nos levaram à assinatura do Memorando com a troika - já demonstrou todos os seus defeitos e as suas nenhumas virtudes.
Por isso mesmo António Costa aposta numa dinâmica parecida com a que Sócrates tanto desejava, mas com a vantagem de estarem em curso as condições para a tornar bem mais exequível. É no impulso a ela dado juntamente com outros líderes da Europa do Sul, também eles determinados a alterarem as regras do jogo dentro da União, que o futuro primeiro-ministro encontrará as condições para levar para diante com sucesso a sua estratégia de desenvolvimento do país e de maior prosperidade dos seus cidadãos, dando novo fôlego aos desígnios do Estado Social.



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