Estamos quase com um mês passado sobre as eleições europeias, que demonstraram realmente o que os eleitores portugueses pensam do governo de passos coelho e do tipo de oposição assumido por António José Seguro ao longo de três anos. Perante a falta de uma verdadeira alternativa para este estado de coisas a atitude dos eleitores foi do tipo «venha o diabo e escolha!».
Ao apresentar-se como solução para o problema político então evidenciado, António Costa foi recebido com entusiasmo pela maioria dos militantes socialistas, o que explica a jogada cobarde de António José Seguro em furtar-se a um combate leal nas regras por que ele próprio se vira eleito e decidiu propor aquilo que sempre contrariara - as primárias.
Se o Partido Socialista contara até 2011 com secretários-gerais, que o tinham prestigiado pela ética republicana sempre neles constatável, irá contar na sua História com este período fulcral para a vida dos portugueses em que a sua direção não se terá mostrado à altura das circunstâncias e do que os portugueses ansiariam que fosse.
Vem esta longa introdução a propósito de alguns pedidos de leitores do blogue «Ventos Semeados», que pedem esclarecimento sobre a política de alianças a concretizar por António Costa quando chegar a primeiro-ministro.
Coligar-se-á à direita, como o preveem alguns apoiantes de António José Seguro, ou concretizará, pela primeira vez em Democracia, a grande união de esquerda que, socialmente, tem sido quase sempre maioritária nos atos eleitorais e acaba invariavelmente por ver a direita a governar ou a influenciar significativamente a ação dos governos socialistas?
Os que apoiam Seguro até «esquecem» que um dos seus maiores apoiantes - Francisco Assis - tem publicado diversos artigos de opinião em que não vê outra alternativa para o país que não seja um grande governo de centro-direita. Mas se António Costa não se mostra lesto a dizer taxativamente, que se aliará com o PCP e com o Bloco, logo deturpam as suas palavras e o dão inevitavelmente nos braços dessa mesma direita.
Poderá António Costa clarificar já, qual será a sua preferência para formar um governo de coligação? Claro que não, a começar pelo facto de, a esta distância, não se poder conjeturar se ele ganhará as legislativas, e se assim suceder, o consegue com maioria relativa ou absoluta. Trata-se, pois, de não colocar a carroça à frente dos bois.
Na realidade ninguém estará em condições de predizer o que acontecerá nos próximos meses: será que os indicadores económicos negativos e o recuo das vozes pró-austeritárias na Europa deixarão ainda mais isolado o PSD e o CDS, a ponto de criarem tais fricções que acabem por concorrer sozinhos a essas legislativas? E, se isso suceder, será que, em vez de se tornar no partido do táxi, o CDS converter-se-á no do tuk-tuk? E quem assumirá então a presidência do PSD?
E à esquerda o que acontecerá? Conseguirá o Bloco manter representação parlamentar depois da sua presente segmentação? Será que o Livre ou o Forum Manifesto chegarão a ter suficiente expressão eleitoral, que justifique algum protagonismo?
Mais previsível será a posição do PCP que nunca quis, nem nunca quererá, partilhar os custos da governação com o Partido a quem aspira subtrair alguns eleitores para consolidar o seu papel de força de protesto. Jerónimo de Sousa e os seus colaboradores devem ter consciencializado que depois de se perfilarem como partidos de poder, os comunistas italianos ou franceses ficaram reduzidos a uma dimensão quase grupuscular.
É por isso que a entrevista dada a São José de Almeida e a Nuno Sá Lourenço no «Público», esclarece o que António Costa defende sobre o diálogo com outras forças políticas. Ele diz aí que “o país precisa de compromissos políticos porque a democracia é o regime dos compromisso políticos e sociais. Por isso, tenho insistido numa agenda para a década, que deve procurar reunir um compromisso político generalizado e a concertação social estratégica.”
Ele não aceita que “haja qualquer partido político com representação parlamentar que deva estar excluído de qualquer solução de Governo.”
A verdade é que esses compromissos políticos devem ser estabelecidos muito para além dos partidos, até porque estes estarão longe de esgotar essa concertação social estratégica de que fala António Costa.
Os apoiantes de Seguro lavram num abuso de intenções pouco escrupulosas quando dão António Costa como refém inevitável de acordos com a direita. E, pelo contrário, procuram escamotear o que tem acontecido nestes três anos: quer quando se tratou de enviar orçamentos do governo para o Tribunal Constitucional, quer o ocorrido na altura em que cavaco silva quis obrigar o PS a coligar-se com a desavinda associação entre o irrevogável portas e o ainda primeiro-ministro, foi evidente a vontade de António José Seguro aliar-se à direita em vez de apoiar a contestação social à esquerda.
Haverá até quem conjeture que o hiato de quatro meses estabelecido por Seguro para clarificar a questão da liderança teve como expectativa a possibilidade de a direita retomar a crise do verão passado e obrigar a eleições antecipadas, que impedissem António Costa de ser avaliado como candidato a primeiro-ministro. Elas dariam o ensejo à grande coligação, que ele inconfessadamente, aspiraria liderar. Nesse sentido justifica-se aplicar a Seguro o provérbio: “quem desdenha quer comprar!”
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