As televisões apresentaram ontem um lamentável momento do discurso de António José Seguro face aos seus apoiantes em Braga: para ele o avanço de António Costa não terá surgido por se terem ganho (!?!?!?) as eleições autárquicas e europeias, mas porque o PS estaria à beira de repetir tal “sucesso” nas legislativas. Tratar-se-ia, pois, de um gesto calculista de quem quereria colher os frutos do esforço deste secretário-geral durante três anos.
Na sua “cobardia moral” - termo que tomo de empréstimo a Clara Ferreira Alves - António José Seguro dá razão ao provérbio, que diz ser bom julgador aquele que por si mesmo se julga. Porque, na sua arrogância de quem detém um poder, que não é seu - o Partido pertence a todos os seus militantes e não apenas ao secretário-geral e aos seus apoiantes - António José Seguro não quer ver o essencial:
· os portugueses já lhe disseram em 25 de maio, que não confiam nele como alternativa a passos coelho e a paulo portas, pelo que preferiram abster-se ou dar votos a propostas inócuas como as de Marinho Pinto;
· mesmo que as chapeladas programadas pelos seus apoiantes conseguissem prevalecer em 28 de setembro, nunca se conseguiria dissociar da imagem do “líder” fraco, que terá recorrido a uma golpada para adiar a resolução do desafio, que António Costa lhe lançou.
· toda a morosidade imposta a este impasse só beneficia a direita e prejudica o Partido Socialista, pelo que faz pouco sentido acusar António Costa de culpas, que são exclusivamente suas, (vide como, em pouco mais de um mês, o PSOE resolveu a questão da liderança e já conta com um novo secretário-geral para enfrentar Mariano Rajoy);
Mas as afirmações proferidas em Braga são tanto mais graves, quanto elas denunciam o quão pouco de socialista subsiste em António José Seguro: para ele torna-se claro que a política não é a luta por projetos e ideias de transformação do país capazes de mobilizarem os portugueses. Para o ainda secretário-geral a política mede-se pelo populismo bacoco das suas afirmações contraditórias e pela forma como procura adequá-las ao que julga serem as tendências do eleitorado. Por isso mesmo ainda julga que os portugueses estão divorciados da política, porque existem deputados a mais ou não tinham sido convidados até aqui para decidirem quem seria o seu candidato a primeiro-ministro.
Nessa miopia, que o torna cego ao que de mais importante se passa à sua volta, António José Seguro não quer perceber que os portugueses só querem políticos em quem possam confiar, com provas dadas em funções onde essa competência se tornou inquestionável e com ideias concretas para mudar para melhor a sua qualidade de vida.
Na realidade os portugueses não podem ser generalizáveis ao típico discurso do taxista, segundo o qual os políticos são todos iguais em defeitos. Na realidade nem todos são arrivistas inconsequentes como o ainda secretário-geral, que quis fazer do maior Partido português a sua coutada, julgando-a segura com a blindagem da sua cerca. Ou seja dos estatutos, que fez aprovar!
António Costa já provou há muito tempo que é doutra cepa. E por isso é credível, quando na entrevista hoje inserida no «Público» fala de si mesmo, para dizer o que é assaz evidente: “Devo ser das pessoas que há mais anos consecutivos exercem funções executivas. E se as exerço é porque tenho bem a noção de que gerir o concreto não se faz só com base em valores. Não fui daquelas pessoas de fazer carreira política escondido na sexta fila da bancada do Parlamento. Desde há muitos anos que estou na primeira fila. Por isso dispenso lições sobre o exercício da ação executiva e não desvalorizo as limitações da técnica, nem acho que o voluntarismo político possa sobrepor-se.”
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