Se António Costa tem sido exemplar na forma como se refere ao ainda secretário-geral do Partido Socialista, (“eu não direi nada sobre o atual secretário-geral do PS que o diminua se ele no futuro vier a ganhar”) infelizmente não tem sido esse o comportamento deste último. Apresentando-se como vítima de uma “traição” ou de “uma falta de lealdade”, Seguro continua a ver a política na estreiteza da esfera pessoal, como se ela se resumisse à afirmação de uns egos contra outros.
É claro que a política não se limita à ambição pessoal de que Seguro dá mostras: para ele o fundamental será o exercício do poder pelo poder independentemente do tipo de políticas que as circunstâncias lhe vierem impor. Porque, ao longo destes três anos, a direção do Partido Socialista tem sido meramente reativa em relação à sucessão de acontecimentos, jamais apostando em antecipar-se-lhes com eficácia e conseguir comandá-los. Das vezes em que a tal se arriscou foi para falhar clamorosamente nos seus vaticínios: quando apostou seriamente na possibilidade de eleições antecipadas e nunca se precaveu com planos B e C para o caso de, como sucedeu, cavaco tudo fazer para evitar eleições antecipadas, ficou reduzido a um discurso que passava por uma solução, que lhe estava vedada.
Mas se foram muitas as vezes em que víamos os outros partidos à esquerda a reagir em cima do acontecimento às sucessivas malfeitorias do governo, tornou-se confrangedor constatar que no Rato a resposta demorava horas, se não mesmo era adiada para o dia seguinte. Como se, de cada uma dessas vezes, os mais diretos colaboradores de Seguro não soubessem o que deveriam dizer.
Essa tendência não foi corrigida com a experiência: quase semana sim, semana sim, Seguro vai dando provas de inconsistência política e de navegar completamente à vista de acordo com as aparências do que vê.
Veja-se o que ele disse a propósito do BES quando, a 9 de julho, julgou vestir a fatiota de «político responsável» ao pedir uma audiência ao governador do Banco de Portugal para aferir da robustez e funcionamento do sistema bancário: “desse ponto de vista os esclarecimentos que o governador do Banco de Portugal me deu diminuem o meu nível de preocupações”.
Para seu infortúnio no dia seguinte o BES afundou-se na praça financeira lisboeta obrigando a retirar do mercado a sua cotação. A 17 de julho, completamente atropelado pelos acontecimentos, que iam denunciando a calamitosa situação das várias empresas ligadas à família Espírito Santo não encontrou melhor reação, que não fosse o tipo de discurso em que muito se fala para não dizer nada: «É preciso haver um esclarecimento cabal da situação para que não exista este efeito contágio porque neste momento o nosso país está outra vez sob observação dos mercados financeiros, sob observação externa, depois dos sacrifícios enormes que os portugueses fizeram. Tem que haver esclarecimento, tem que haver transparência, tem que haver verdade».
Nestes três anos o balanço da liderança de António José Seguro afina por esse desafinado diapasão. E por isso mesmo os portugueses não veem nele o líder capaz de lhes oferecer uma alternativa competente e credível ao governo do PSD e do CDS. A tal alternativa que melhor serve os interesses do país e melhor serve o futuro dos portugueses.
Ciente da sua falta de razão resta a Seguro cingir-se ao ataque pessoal, ao assassínio de carácter de António Costa. A contragosto terá de, intimamente reconhecer que lhe falta a consistência política e estratégica de que ele dá mostras . Por isso resta-lhe esbracejar muito para evitar, em vão, o fim que lhe está reservado.
Ora, não teria sido muito mais digno da sua parte constatar que, face às evidências, seria muito mais útil para o Partido e para a generalidade dos portugueses, que tivesse abreviado o processo da sua sucessão?
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