sábado, 19 de julho de 2014

Os sinais que vêm de Bruxelas

Uma das indignidades que manchará para sempre o curriculum de maria luís albuquerque foi a rapidez com que se associou ao discurso austeritário quando Matteo Renzi discursou na mais recente reunião do Eurogrupo e propôs uma tímida flexibilização no cumprimento do Tratado Orçamental. Uma vez mais a ministra portuguesa das Finanças fez jus ao célebre provérbio popular, que diz só não existirem mudanças de opinião nos burros!
Não significasse isso um insulto assaz injusto aos pobres animais de quatro patas e seria uma boa designação para qualificar essa paladina da receita com que os portugueses foram servidos nos últimos quatro anos. Mas fica registado o sentido metafórico!
Para quem visse angela merkel a discursar por causa do banco anteriormente pertencente à família espírito santo, entendia-se o convencimento dos crentes em como nada mudará de substantivo na política europeia nos próximos anos. “As coisas continuarão a ser como são”, lá dizia o célebre poema de Brecht, que demonstrava precisamente o contrário.
É que, no entanto, ela move-se. E aqui o ela é a Terra, mas também a União Europeia e a generalidade da política internacional. Basta um míssil atingir um avião malaio ou um banco português afundar-se e todo o castelo de cartas em que assenta o capitalismo financeiro abana o suficiente para que se sinta como tudo poderá mudar de um momento para o outro.
É por isso que, mais prudente do que merkel, o novo presidente da Comissão Europeia veio apresentar um documento programático intitulado «Um Novo Começo para a Europa» onde diagnostica de forma indubitável a causa da crise em que mergulhámos e antecipa algumas mudanças a sucederem nos próximos meses.
Para juncker não existe qualquer dúvida quanto ao facto de a Europa ter sofrido a pior crise económica e financeira desde a Segunda Guerra Mundial. O sucessor de barroso desmente lapidarmente a narrativa dos que, em Portugal, quiseram atribuir culpas aos governos de José Sócrates.
Para responder a esta crise a nova Comissão irá propor um plano de investimento público e privado para o crescimento e o emprego no valor de 300 mil milhões de euros nos próximos três anos nalgumas áreas prioritárias: a educação, a investigação e a inovação; as novas tecnologias; as redes de banda larga e o mercado único digital; as redes de energia, as energias renováveis e a eficiência energética; as infraestruturas de transporte; os sectores industriais estratégicos e o combate à burocracia.
Olha-se para este inventário de setores considerados fundamentais para as economias europeias e é inevitável recordar o Plano Tecnológico dos governos de Sócrates que este (des)governo abandonou. E que o novo Governo socialista deverá retomar o mais rapidamente possível.
Nesse sentido, quando os apoiantes de Seguro acusam António Costa de não ter programa para o seu governo deveriam encher-se de vergonha porquanto foram eles quem, ao remeterem ao esquecimento tudo quanto foi implementado entre 2005 e 2011, perderam a legitimidade para sequer reivindicarem como seu essas estratégias. Pelo contrário António Costa tem sido taxativo na defesa dessa herança da qual tomará o devido testemunho e melhorará, tendo em conta o que de bom e de menos bom ela comportou.
Dado que juncker retoma de Renzi a necessidade de flexibilizar o Pacto de Estabilidade e Crescimento, de modo a favorecer a "utilização dos orçamentos nacionais a favor do crescimento e do investimento", António Costa só tem que, enquanto primeiro-ministro, associar-se o mais determinadamente aos que  estão dispostos a combater os fanáticos da austeridade. E, aí importa diferenciar Costa de Seguro: enquanto ele assim agirá com determinação nos sete dias da semana, o ainda secretário-geral andaria no seu ritmo de «qual é a pressa?», umas vezes piscando para um lado, outras para o outro.
Ora a situação do país não se compadece com quem já mostrou ter ideias muito contraditórias sobre o quanto há a fazer!!!


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