domingo, 6 de julho de 2014

As incoerências como espelho de uma irremediável imaturidade

Eu gostaria de deixar de escrever sobre cavaco silva tão farto me sinto com a sua incultura e mesquinhez, novamente demonstrada na semana que passou com a nenhuma reação pública ao Grammy de Carlos do Carmo. Mas, hélas, para mal dos nossos pecados lá o teremos de suportar até 2016, altura em que o poderemos definitivamente enterrar no sarcófago donde, em má hora, saiu.
Dia a dia, a mesma urticária me anda a dar sempre que vejo António José Seguro a  perorar na televisão.
Quantas vezes pondero - até por uma certa visão do que deve ser a ética republicana - não voltar a abordar os dizeres da criatura, mas lá tenho de fazer contrição de tão piedoso sentimento e voltar à carga com o que são os sinais da doença infantil de que ele parece irremediavelmente acometido! Porque, olhando para o que dele ouvimos nos últimos dias só temos de reconhecer a incoerência de quem nunca se conseguiu libertar de um estado larvar de imaturidade.
Voltemos, então, ao malfadado debate sobre o estado da Nação que levou alguns comentadores a reconhecerem ter ele conseguido fazer de passos coelho um “estadista” e um “político respeitável”. Ao maldizer os governos de José Sócrates, Seguro viu-se achincalhado pelo ainda primeiro-ministro, que só teve de manifestar a sua plena concordância com quanto o ouvira dizer em público desde que se tornara passarinho saído da gaiola.
A incoerência, porém, não se ficou por aí: querendo criticar a óbvia OPA do PSD sobre o Banco Espírito Santo Seguro alegou as ligações de mota pinto e moreira rato ao partido em causa, mas teve de se silenciar sobre vítor bento. Pudera! Se ainda há escassas semanas o convidara para abrilhantar uma das sessões do «Novo Rumo»!
Por natureza António José Seguro não conduz os acontecimentos, deixa-se arrastar por eles. Já sabíamos que foram muitas as vezes em que o PCP, os Verdes e o Bloco de Esquerda reagiram a quente às sucessivas diatribes do Executivo, e a reação do Largo do Rato tardou horas senão mesmo foi deixada para o dia seguinte. É isso que explica o facto de, depois de terem menorizado o Manifesto dos 74 - quem pode esquecer as palavras de Álvaro Beleza? - os colaboradores de Seguro viram-no, agora, espadeirar pela renegociação da dívida em pleno Conselho de Estado. Será que, eles próprios, sentirão conforto intelectual com um líder capaz de dizer uma coisa e o seu contrário no espaço de alguns dias?
A imaturidade de Seguro ainda se tornou mais óbvia na sequência dessa mesma sessão do Conselho de Estado, quando veio contar cá para fora como até passos coelho terá reconhecido a necessidade da renegociação da dívida. Algo que o próprio logo veio negar!
Neste episódio Seguro voltou a demonstrar a falta daquela “gravitas”, que todos os políticos com sentido de responsabilidade devem ostentar.
Ser primeiro-ministro ou líder da Oposição obriga a ter contenção nas palavras e não deitar boca fora tudo quanto verdadeiramente se pensa ou sabe. Porque, sendo a política a arte da negociação só um tolo se apresta a ir para ela antecipando os trunfos e opiniões de que dispõe.
Hoje é crível que até passos coelho reconheça o fracasso das suas políticas, tão distantes são os resultados daqueles em que ele apostava há três anos, quando prometia ir muito além do imposto no Memorando da Troika. No seu círculo restrito já se chegou decerto à conclusão, o que só um cego não vê: que a dívida, já nos 130% do PIB, não se consegue pagar sem comprometer o crescimento da economia. Mas só Seguro parece não ver que essa renegociação terá de ser preparada com muito cuidado e umas quantas movimentações de bastidores, antes de se a anunciar publicamente. Sob pena de, entretanto, os mercados reagirem e aumentarem as taxas de juro com que, por agora, o Estado português se vai conseguindo financiar.
Quer isto dizer que os 74 e outros devem calar a  urgência dessa negociação? Longe disso! O papel desses economistas é fundamental para que se torne possível essa negociação com o BCE, a Comissão Europeia, o FMI e alguns dos principais credores nacionais e internacionais. A uns cabe o papel de pressionar a negociação da dívida, ao governo ou ao principal partido da oposição caberá levá-la a peito com inteligência.
Aquela para que passos coelho perdeu legitimidade e Seguro já demonstrou não ter maturidade para concretizar. E que, pelo contrário, poderá e deverá ser assumida por António Costa cujo discurso junto dos que o apoiam deixa sempre claro ser essa a estratégia a concretizar para tornar possível a transformação dos condicionalismos estruturais diagnosticados na estrutura produtiva nacional.
Por isso mesmo, quando se comparam os discursos de Seguro e de Costa é redondamente falso, que se assemelhem, como o tentam convencer gente da Direita e do PCP. Onde Seguro revela uma insegurança própria de quem é incapaz de pensar o país a curto, médio e longo prazo, António Costa já tem bem definida a meta e quais as etapas intermédias por onde ela deve ser alcançada.
Infelizmente teremos de passar pelos obstáculos semeados internamente por esta direção incompetente, para enfim darmos aos portugueses a proposta alternativa por que eles tanto anseiam. E essa é outra mácula de que Seguro jamais se conseguirá libertar: numa altura em que seria fundamental a rapidez da resolução deste impasse ele inventou estas primárias e impôs este calendário, que só prejudica o Partido Socialista e o país!


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