quarta-feira, 26 de julho de 2023

À margem da visita do Papa

 

Enquanto ateu, sinto natural distanciamento em relação às notícias televisivas dedicadas ao evento religioso, que traz de volta a Portugal um Papa, que me merece mais indiferença, que simpatia. Em alternativa vale a pena olhar para outras fontes informativas e para os sinais por elas proporcionados em relação ao futuro a curto/ médio prazo.

Por exemplo a newsletter do Expresso da lavra de David Dinis, que aborda as eleições espanholas e procura convencer os dirigentes do PSD a dissociarem-se mais afirmativamente do Chega para se livrarem dos amargos de boca sofridos pelo Partido Popular no último fim de semana: “(...) aos olhos dos eleitores, o Chega é tóxico e quem estiver perto acaba contaminado. E acrescento isto: como prova o que aconteceu a Feijóo, não basta dizer que não assim por alto em Lisboa e aceitar o que aconteceu nos Açores. Assim como não serve de nada dizer que é “inusitado” se o PP não conseguir formar governo em Espanha quando se aceitou, bateu palmas até, quando o seu PSD açoriano fez a geringonça de direita para tirar o PS do poder - mesmo sendo apenas o segundo mais votado. A incoerência tem um preço.”

O problema dos comentadores da direita é resolverem a notória quadratura do círculo, que é facilitar o regresso ao pote da sua área política dispensando a bengala da sua ala mais extremista!

Surgem igualmente números que fazem pensar: segundo o mais recente relatório do FMI a China volta a passar os 5% de crescimento no PIB e a economia russa está a recuperar. Ao invés sobra à zona euro um débil crescimento com a Alemanha mergulhada na recessão. 

Se a isso acrescentarmos o artigo do “Financial Times” em que Gideon Rachman assinala um progressivo distanciamento da economia europeia relativamente à norte-americana - se em 2008 os PIBs de ambas equivaliam-se agora o da primeira quase se fica por metade do da segunda! - entende-se melhor quem anda a fazer figura de urso na atual conjuntura de guerra a leste.

E, no entanto, não falta quem continue a pugnar pelas mitómanas “reformas estruturais”. Ricardo Paes Mamede sugere uma contrarresposta a quem delas faz parangonas nos seus discursos políticos: perguntar-lhes em que consistirão essas reformas. E já o seu balbuciar hesitante denunciará as dúvidas sobre se significarão mais desregulação, liberalização dos mercados e privatizações. Porque não sobram exemplos sobre o quão danosas se revelaram, quando levadas, efetivamente, á prática!

Daí haja particular sapiência no economista do ISCTE, quando conclui: “para o desenvolvimento do país, em muitos casos, importa mais ter boas políticas do que grandes reformas.” 

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