No que diz respeito a efemérides poderíamos lembrar a tentativa spinolista de pôr cobro à Revolução dos Cravos, antecipando à bruta aquilo que a intervenção do FMI viria impor dois anos depois: a reprivatização progressiva de tudo quanto fora nacionalizado, o fim da Reforma Agrária e a eliminação dos avanços conseguidos na legislação laboral.
É estulta essa evocação, porque os tejeristas lusos estão quase todos mortos e enterrados sem glória, mesmo tendo conseguido por outras vias, que a sua visão de uma sociedade feita de mando por alguns e obediência por quase todos, continue a ser aquela em que vivemos. Mesmo que nos vamos iludindo com a tessitura de uma Democracia com abrangência bastante para acolher, quer os que julgam possível nela dilatar a participação coletiva e a redução das desigualdades, quer os que querem exatamente o contrário e encenam mistificações mais ou menos populistas. Entre António Costa e a ignóbil criatura as coincidências são nulas, mas o nosso Tribunal Constitucional ainda mantém a absurda tese de ambos se equivalerem no âmbito desse cânone democrático.
Melhor valerá passarmos para a outra efeméride do dia: os dez anos passados sobre o acidente nuclear de Fukushima, ocorrido na sequência de um sismo e do tsunami subsequente.
Numa altura em que Bill Gates vem fazer tardia profissão de fé na ecologia, que nada lhe disse enquanto foi acumulando os seus muitos milhões, não deixa de ser revelador que, depois de garantir a alavancagem da riqueza à conta dos seus interesses nas sementes geneticamente modificadas, impostas em África pela sua «altruística» Fundação, e causadoras de ainda maior empobrecimento nos camponeses de muitos países afetados por essa negociata, ele faça marketing em favor da indústria nuclear.
Prometendo padrões de segurança, que sabemos ilusórios, quando a Lei de Murphy se traduz em acontecimentos concretos, ele desqualifica as energias renováveis e promove «energias limpas» num novo ramo empresarial onde assume estar a investir.
A efeméride de Fukushima serve para nos lembrar o quão seguras são essas centrais: nesta altura ninguém consegue prever, quando conseguirá remover o material radioativo existente nos reatores acidentados. Mas aponta-se lá para o final da década se, entretanto, se desenvolverem novas técnicas ainda por inventar.
E, no entanto, ainda há poucas semanas, se lançou a versão portuguesa do material de propaganda em prol de um negócio, que garanta a Bill Gates a recuperação do tal primeiro lugar entre os ultrarricos, que o dono da Tesla lhe anda a querer roubar...
Convenhamos que, por uma questão de atualidade, a evocação de Fukushima faz mais sentido do que a arruaça de Spínola e seus capangas...
As vias para o atual consenso constitucional, Jorge Rocha, foram as vias de revisão da CRP de 1976, sempre com a anuência do PS, que persiste em querer ver como um Partido Socialista, quando na verdade já nem social-democrata no sentido clássico é. Pelo menos o PCP e o BE não se iludem quanto às convicções liberais de António Costa.
ResponderEliminarE ainda bem que a dita CRP assegura o pluralismo político, digo eu e lá caberá ao TC averiguar se as sucessivas mudanças de posição de Ventura se coadunam com a Constituição. Para alguma coisa servirão as denúncias de Ana Gomes.