terça-feira, 16 de março de 2021

O momento Ardenas dos proibicionistas da eutanásia

 

Bem pode o Chicão fazer a festa, lançar os foguetes e apanhar as canas, que o acórdão do Tribunal Constitucional relativo à chamada lei da eutanásia constitui efémera vitória numa batalha em cuja guerra já se anuncia certa a derrota. Numa metáfora belicista pode-se considerar que o líder do CDS e todos  quantos fomentam a absurda proibição das liberdades alheias  conseguiram o seu momento Ardenas, sem conseguirem que, nessa matéria, evitem o que muitos depressa entoarão ao som do Leonard Cohen: “then we take Berlin”.

Não será ainda uma lei tal qual a maioria dos seus defensores pretende? Claro que não! O cingir-se a casos de “lesão definitiva de gravidade extrema” está muito aquém daqueles que, para cumprirem a sua vontade, ainda serão obrigados a arcar com os custos e os incómodos de uma viagem à Suíça. Mas o acórdão do Tribunal fez estremecer os proibicionistas ao reconhecer que “o direito à vida não pode transfigurar-se num dever de viver em qualquer circunstância”. Porque, eu que conheci diretamente familiares acometidos de Alzheimer, sei que isso não é forma de vida, que se recomende, nem para os próprios, nem para os que nem por eles são sequer reconhecidos, apesar de lhes terem herdado os genes.

E esse é apenas um exemplo entre os muitos possíveis de justificação plena para se escolher o momento de dar cabimento áquilo que, muito justamente, José Saramago dizia em Lanzarote: “hoje estamos aqui. Depois deixamos de estar.” Sem que isso constitua qualquer drama! Apenas se exigindo que a sociedade aceite e facilite essa opção de se poder transitar pacificamente para esse Nada. 

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