terça-feira, 16 de março de 2021

Uma vez mais “Je suis Charlie”

 

Sobre o mais recente escândalo com a família real britânica pouca atenção investi. Li os títulos e alguns sublinhados, mas nada de particularmente novo em relação ao desprezo, que me merece enquanto republicano dos quatro costados. Mas agradou-me particularmente a capa do Charlie Hebdo desta semana: espirituosa, oportuna e sintética em relação ao que de essencial sobrou da entrevista de Meghan e de Harry.

Houve quem achasse de mau gosto e quisesse trazer de volta os propósitos censórios? Claro que houve! Mas, eu defendo precisamente o contrário,  não só em nome da liberdade de expressão, mas pela relevância de se pôr fim a tão anacrónica instituição quanto o é a monarquia. Da qual Daniel Oliveira faz um veredito eloquente na sua crónica de ontem: “A crise da monarquia resulta de outra coisa. No tempo da selfie, nenhum poder que dependa da adesão dos cidadãos pode aparentar distância. E era o mistério e a distância que davam poder simbólico a monarcas e suas famílias. Felizmente, o mistério está a desaparecer. As casas reais são pouco mais do que famílias disfuncionais com imensas potencialidades para indústria dos mexericos. Mas uma dispendiosa inutilidade.” 

1 comentário:

  1. O Charlie Hebdo já nos habituou ao seu humor rasca e mal-educado. Às vezes tem graça de tão ofensivo, neste caso não tem graça nenhuma, Jorge Rocha. Meghan Markle e o marido tinham sempre uma escolha, a saber, aquela que no fim tomaram, porem-se a milhas de Buckingham Palace (mas não das câmaras, para já).

    Os Sussex são ingénuos, ou fazem-se de ingénuos. A única justificação para a existência de uma família real de tal dimensão na Grã-Bretanha, por oposição às monarquias continentais, é que aquilo dá dinheiro a muita gente. A Firma é isso mesmo.

    Os escândalos (a que não são alheias outras realezas, basta olhar aqui para o lado) não são por isso defeito e sim feitio. Os tablóides adoram esta crise e para os Windsor ela traz a vantagem de ajudar a abafar as alegações, muito mais graves, contra o Príncipe André... Se eu fosse mauzinho, diria que isto não passa do 'throw a dead cat on the table', manobra tão cara aos britânicos...

    Agora, sinceramente, alguém se espanta que numa tal colecção de jarretas, o racismo seja moeda corrente?

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