domingo, 7 de março de 2021

Nos cem anos do Partido Comunista Português

 

Se não tivesse morrido tão cedo (1937), e tão novo (46 anos), António Gramsci ainda melhores respostas nos daria para uma evolução histórica, que passou por muitas vicissitudes no último século, mas mantém-se estagnada na situação por ele descrita como a de uma crise em que o velho está a morrer, mas o novo ainda não nasceu.

O velho é, obviamente, esse capitalismo com a sua história de muitos séculos - pelo menos tantos quantos os que passaram desde que a burguesia dos mercadores começou a pôr em causa o poder político dos senhores feudais! - mas tarda em morrer, apesar dos crescentes sinais de rebentar pelas costuras. O neoliberalismo  - o ai jesus de quem, nas nossas direitas, se quer apresentar como propagandista de ideias novas, afinal mais do que bolorentas! - ficou desmascarado na sua inconsequência ideológica com esta pandemia, como aliás António Costa o declarou na recente entrevista ao «Público».

Tal qual os esquemas da D. Branca, o capitalismo precisaria de sempre crescer, expandindo-se de forma a sugar as riquezas nas periferias para as concentrar no seu núcleo central, mas a globalização demonstrou quem poderá vir a ser o derradeiro beneficiário dessa corrida para a frente.  Comunista de nome, o atual PC Chinês tenderá a constituir-se como última expressão do sistema de exploração das mais valias esbulhadas nos desregulados “mercados”. Houvesse alguma coerência e Xi Jinping faria um rebranding  à organização, que preside, mudando-a para Partido Capitalista do Estado Chinês.

É nesse contexto, que agora se comemoram os cem anos do Partido Comunista Português ao qual nunca devemos deixar de louvar pela heroica luta antifascista nos anos em que o salazarismo-marcelismo aperreou os portugueses na sombria existência feita de miséria e de ignorância.

Como socialista não me passa sequer pela cabeça, que ele definhe ou morra. Até por o ver a comportar-se de forma diversa da que é a progressiva aliança tácita entre o Bloco de Esquerda e as direitas para derrubarem o governo, que melhor conta tem dado do país desde que o 25 de abril instituiu a Democracia. Mas, a exemplo do que escreve o seu ex-dirigente Domingos Lopes no «Público» há que “reconfigurar o ideal, tendo em conta os novos tempos (...). Haja a coragem que noutras ocasiões houve.!” Porque, no fundo, voltando a Gramsci, eles acabarão por nascer como resposta a um tipo de sociedade só possível num planeta em que os recursos possam ser aferidos e sustentados de forma planificada, sem corresponderem aos fluxos das ofertas e das procuras, que faz do capitalismo o grande causador de todos os sintomas por que passa a crise ambiental e ameaça transformar o nosso futuro numa tremenda distopia.

O tal impossível, que Brecht dizia ser a única forma de se ser realista, está pronto para substituir-se ao tal mundo velho em vias de se finar.

1 comentário:

  1. O Jorge Rocha parece esquecer que o pior que o capitalismo tem não é o Mercado (que é fonte de inovação e competição, apesar de tudo) e sim o Monopólio.

    Ora, nesse sentido, o socialismo estatista vai copiar do capitalismo não o que ele tem de dinâmico mas o que tem de pior, justamente esse Monopólio, agora de Estado.

    Já sei que me irão dizer que os objectivos dos gestores públicos são diferentes dos do privado e que procuram o bem-comum, só que os exemplos passados mostram que a profecia de Bakunine, de que uma ditadura (mesmo a do proletariado, leia-se a da vanguarda cinzenta do PC) tem como único objectivo a sua perpetuação, era bem certeira.

    O apoio que o PCP dá ao regime chinês é expectável, não é contra-natura, porque o capitalismo de Estado não é assim tão diferente do sistema que vigorava na URSS... O Estado mantém o Monopólio do controle da actividade económica.

    Eu quero crer que se um regime como o chinês fosse instaurado em Portugal, a generalidade dos militantes comunistas se oporiam a ele, porque a sua veia libertária fala mais alto que a fidelidade ao marxismo-leninismo, a fé oficial do Partido.

    Mas é triste que, como bem notava Domingos Lopes, o PCP defenda regimes comunistas em que as liberdades são inferiores às concedidas nos regimes capitalistas. Aliás, não conheço nenhuma sociedade pluralista que não tenha o capitalismo como modelo de organização económica.

    A planificação de que fala é um logro. A Economia do Futuro deverá seguramente passar por modelos cooperativos e descentralizados, mas que retenham algum nível de competição entre si...

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