Não compro totalmente a tese do suíço Yves Citton, que anda a ser entrevistado na imprensa francesa a propósito do seu recente ensaio «Faire avec. Conflits, coalitions, contagions. O que ele propõe é a necessidade de se adotarem novas estratégias para combater os conflitos radicalizados e inéditos que se anunciam para os próximos tempos, marcados pela ameaça ambiental e a agudização das desigualdades entre os muitos ricos e a maioria dos que a pandemia ainda fez mais pobres. Embora o sindicalismo tenha perdido muito do seu fulgor - sobretudo quando surgiram centrais sindicais destinadas a perturbarem as lutas dos trabalhadores a soldo dos interesses dos patrões - não deixa de ser comovente a determinação dos milhares de assalariados da Amazon na pequena cidade de Bessemer no Alabama, que enfrentam ameaças e chantagens da poderosa multinacional e pretendem ver-se representados por uma estrutura sua representativa.
Se as nossas televisões mal falam das realidades internacionais para lá das que têm a ver com a pandemia - ou provavelmente a respeito do mais recente massacre com armas no Colorado, porque este é sempre tema auspicioso para quem gere a agenda dos telejornais! - nenhuma referência se fará a este exemplo de luta de classes nos Estados Unidos, mesmo que, por estes dias, o ator Danny Glover e várias estrelas da NFL tenham acorrido ao local para demonstrarem o seu apoio.
E, no entanto, Citton tem razão quando considera que devemos lutar contra as estratificações das lutas porque, por exemplo, quando andamos a querer soluções para o aquecimento global, não podemos esquecer que 90 multinacionais conseguem em conjunto ser responsáveis por 2/3 das emissões de gases com efeitos de estufa na atmosfera. Existe, pois, toda a lógica em associar a luta contra o capitalismo e suas desigualdades com o combate ecológico, muito embora isso seja coisa, por exemplo, completamente impercetível para um dos nossos supostos partidos próambientais, o PAN, que por estes dias anda a mudar de liderança com a promessa de voltar à suposta matriz original que é a de nem ser de esquerda, nem de direita, mas sobretudo afirmando-se antissocialista. Convenhamos que os dirigentes desse partido ganhariam alguma coisa em identificarem-se com o que vai sendo conceptualizado por muitos dos que pensam a sociedade e lhe sugerem as vias para que se torne coisa mais higiénica, ou seja menos desigual, mais justa e sustentável. A menos que o PAN confirme aquilo que sempre lhe adivinhámos como vocação: servir de boa consciência a uma juventude pequeno-burguesa com pretensões modernaças e totalmente à deriva quanto ao que mais interessa à sociedade humana para verdadeiramente evoluir. As novas estratégias políticas sugeridas por Citton não passam decididamente por aí.
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